? Com tantos cortes que estão sendo feitos no orçamento, fica mais difícil justificar o envio anual de US$ 147 milhões ao Brasil ? considerou o coordenador de contenciosos do Itamaraty, conselheiro Celso de Tarso Pereira.
Esses recursos fazem parte de um acordo com os Estados Unidos e são direcionados a um fundo de apoio à cotonicultura brasileira. O acerto foi um paliativo encontrado para evitar que o Brasil adote uma retaliação cruzada contra os americanos, medida que já foi aprovada pela Organização Mundial do Comércio (OMC) por conta dos subsídios ilegais concedidos aos produtores de algodão daquele país.
Apesar de a Câmara dos Estados Unidos ter aprovado a suspensão do pagamento dessa compensação, a expectativa é a de que a situação se reverteria no Senado.
? Tradicionalmente, o Senado é mais atento à política externa ? considerou o conselheiro.
Essa também era a avaliação do setor produtivo, mas com o acordo feito para tirar os Estados Unidos de uma situação de calote, com a promessa de forte corte de gastos, a análise mudou.
? Acendemos a luz amarela. Se vão cortar até dinheiro da merenda das crianças, o que esperar em relação ao Brasil? ? questionou o presidente-executivo do Instituto Brasileiro do Algodão (IBA), Haroldo Cunha.
O instituto foi criado justamente para gerenciar os recursos, que já somam cerca de US$ 200 milhões.
Para Pereira, faz sentido que o setor produtivo acenda a luz amarela, mas ele diz preferir acreditar que a situação se resolverá no Senado. Até porque, salientou, qualquer opção a ser adotada nos Estados Unidos que não seja o envio dos recursos sairá mais cara para o país.
Mesmo assim, por uma questão estratégica, de timing em função do grave momento atual, ou até por conta da possibilidade de o Brasil não ser tão ferrenho em seu contra-ataque, já há parlamentares americanos fazendo os cálculos sobre os ganhos e as perdas de cada possibilidade, conforme informam observadores brasileiros que estão naquele país.
Cautela
? Acompanhamos com cautela as explicações aos parlamentares sobre uma eventual cessação da remessa do dinheiro. Se isso for feito, será um descumprimento e então veremos o que vamos fazer ? disse o conselheiro.
Ele lembrou que uma decisão desse caráter implicaria em um descumprimento acertado com a maior autoridade do comércio no globo e que isso deverá ser levado em conta pelos americanos.
? Nunca se sabe, vamos ficar atentos ? alertou Pereira.
Cunha afirmou que além de monitorar a situação por meio de representantes do setor que estão nos Estados Unidos, os produtores vão cobrar uma postura firme do governo brasileiro, caso a verba deixe de ser repassada ao Brasil.
? É importante que o Brasil mostre ao Congresso de lá que estará disposto a agir ? afirmou.
Os americanos enviam US$ 12,275 milhões por mês para o IBA. O acordo prevê que as remessas continuarão até os Estados Unidos promulgarem a Farm Bill (nova lei agrícola daquele país). A expectativa é que isso ocorra em 2012. Para o Brasil contra-atacar de forma mais contundente os Estados Unidos é preciso do aval da Câmara de Comércio Exterior (Camex).