A valorização do dólar pode fazer tradings reduzirem as vendas de seus estoques no mercado interno, dando algum suporte aos preços nos próximos dias. Desde o início do mês, os preços do algodão registram quedas acentuadas no mercado brasileiro, com tradings negociando a fibra a preços ainda mais baixos que o indicador Cepea/Esalq. Mas agora, com a alta do dólar ante o real, as vendas para o mercado interno se tornam menos vantajosas.
O indicador Cepea/Esalq para pagamento em 8 dias, referente à pluma 41-4, posta em São Paulo, cedeu 0,50% ontem, a R$ 2,4697/lb, na décima queda consecutiva. Em março, o indicador acumula perda de 4,36%. Segundo um corretor de São Paulo, tradings negociavam, no início da semana, volumes de algodão entre R$ 2,30/lb e R$ 2,35/lb para algodão 41-4 colocado em São Paulo em abril. “Desde a semana passada, os preços de traders estavam estáveis, mas agora o dólar mais forte provavelmente deve fazer com que esses vendedores façam ofertas menos agressivas”, explicou a fonte.
O agente paulista contou que, apesar dos preços baixos, as fábricas estão comprando apenas volumes “da mão para a boca”. “Estão muito cautelosos, ninguém quer assumir risco tomando posições mais longas”, comentou. Além disso, as últimas duas semanas foram de aceleração dos negócios, e agora a indústria já está abastecida e evita formar estoques.
Outro corretor, de Mato Grosso, contou que rodaram alguns negócios na semana passada com base no indicador Esalq 8 dias, de produtores para indústrias. Tradings, enquanto isso, vendiam a fibra a R$ 2,35/lb na região. Nesta quarta, dia 16, entretanto, considerando a cotação em Nova York e o câmbio, ele avalia que as ofertas de tradings estariam mais de R$ 0,10/lb acima desse valor.
Além da elevação do preço das tradings, o agente avalia que, com os desafios enfrentados pela indústria têxtil, as negociações diretas com cotonicultores podem ficar mais vantajosas. “Quem pode dar maior crédito para indústria, com prazos de pagamento mais flexíveis, são os produtores. Trading fecha um prazo e não tem conversa”, comentou o corretor de Cuiabá.
Segundo relatório do Cepea, “o ritmo de comercialização algodão em pluma voltou a ficar lento no mercado spot”. De acordo com os pesquisadores, o que dificulta os acordos é a disparidade entre os preços pedidos e ofertados e a qualidade da pluma. “Agentes de indústrias demonstram interesse por pequenos lotes, mas ofertam valores inferiores aos pedidos pelos vendedores”, escrevem os analistas.
Enquanto isso, as vendas da safra 2016/2017 seguem travadas. O corretor de Mato Grosso contou que compradores oferecem até 400 pontos acima do vencimento de julho da Bolsa de Nova York para entrega nos portos de Paranaguá ou Santos, mas não havia interesse de venda. “Os preços estão bons, mas o preço atual em NY não ajuda”, explicou. Além disso, ele comenta que o mercado internacional tem oscilado muito e que agora os cotonicultores não enxergam uma direção clara para as cotações. “O produtor ainda está sem norte, vai aguardar um pouco para vender a próxima safra”, disse.
O corretor de São Paulo contou ter visto negócios pontuais entre o fim da semana passada e o início desta de troca da fibra por insumos, com tradings. “Estamos em uma época que o pessoal começa a pensar nisso, e os produtores aproveitaram o preço do fertilizante, que caiu um pouco”, explicou.
Na semana passada, em seu sexto levantamento de safra, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) reduziu em 4,3% a projeção de safra de algodão em pluma, para 1,495 milhão de toneladas. Segundo a estatal, o ajuste foi feito “em virtude da redução de área, sobretudo no Nordeste”.
Na Bolsa de Nova York, o vencimento maio do algodão, o mais líquido atualmente, fechou em alta de 8 pontos (0,14%), a 58,32 cents por libra-peso. Na segunda-feira, os futuros avançaram quase 2%, impulsionados por movimento técnico. Dados da CFTC publicados na sexta, dia 11, indicaram que fundos haviam elevado o saldo vendido na commodity, o que estimulou a recompra de posições na segunda, dia 14.