Valendo-se da burocracia que envolve a entrada dos produtos no país, o governo argentino está burlando acordos firmados anteriormente, de acordo com empresários da região. São 500 mil pares à espera de liberação, em um prejuízo estimado pela Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados) de cerca de US$ 10 milhões.
O prazo máximo para as liberações, conforme a Organização Mundial de Comércio (OMC) e acordado com o governo argentino, é de 60 dias. Nessa quarta, dia 16, porém, uma das empresas gaúchas amargou o 127º dia sem obter a documentação para entrada.
? Caso a situação não seja resolvida com urgência, toda a temporada estará em risco, com sérios danos às marcas e aos investimentos feitos pelo setor brasileiro no país vizinho. A maior parte dos pedidos ainda não entrou em produção, pois aguarda as liberações ? afirma o diretor executivo da Abicalçados, Heitor Klein.
Coleção outono-inverno sob risco de chegar tarde
Quase metade desses produtos estão sob responsabilidade do representante da Piccadilly na Argentina, Denilson Silveira. O executivo conta que 280 mil pares estão à espera da liberação. Um valor estimado pela empresa em US$ 4,5 milhões está guardado dentro de caixas paradas. O que mais indigna os empresários do Rio Grande do Sul é o que consideram descaso dos hermanos.
O mais grave, segundo apontam os empresários, é que os produtos trancados em depósitos são a nova coleção de outono-inverno. Caso as licenças não sejam liberadas nos próximos dias, as criações gaúchas não estarão nas vitrinas das cidades argentinas a tempo de fazer frente à concorrência.
? Já temos hoje mais de cem dias de licença pendente. Calçado é moda e, se chega fora de época, perde valor comercial. São botas de inverno, sapatos fechados, por exemplo, que se não entrarem ainda em março, quando troca a coleção, depois não terão mais valor nenhum ? argumenta Silveira.
Para melhorar a situação, a Abicalçados vinha intervindo por meio de comunicação direta com o governo argentino. Nos últimos tempos, porém, as autoridades do país vizinho não estariam mais respondendo aos contatos, seja da entidade, do governo brasileiro ou das empresas prejudicadas. A Abicalçados enviou esta semana mais um comunicado ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior enfatizando a gravidade da situação.