? Pode acontecer uma alta de preço em plena época de colheita da safra brasileira, como já ocorrido no ano passado ? disse o diretor executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Café (Abic), Nathan Herszkowicz.
De acordo com ele, a redução da oferta global é consequência da frustração de safra nos últimos anos em importantes países produtores da América, como Colômbia, e também da África. Ao mesmo tempo, a demanda por grãos arábica tem crescido.
Estima-se que a saca de 60 quilos de café tipo exportação paga ao produtor subiu pouco mais de 100% nos últimos 12 meses, saltando de R$ 260 para cerca de R$ 540 a saca.
? A indústria, no entanto, não repassou tudo isso. O ideal seria um aumento médio de 70%. Mas o reajuste ficou entre 6% e 10% no período, dependendo da região e da marca do café ? afirma.
Até agora, as indústrias têm conseguido se abastecer, evitando elevados reajustes de preço, por meio da utilização de estoques e composição de blends com grãos robusta e outros tipos de arábica, que não se valorizaram tanto nos últimos 12 meses.
? A aplicação de boa técnica industrial, com uso seletivo de robusta e alguns arábicas mais fracos, permitiu manter a qualidade do produto final, sem elevação dos custos ? explicou.
Conforme Nathan, entre 60% e 65% do custo total da indústria é representado pela matéria prima.
A expectativa agora é que o café arábica fino do Brasil continue demandado no mundo. Ocorre, porém, que a safra brasileira este ano será menor do que a do ano passado e o produtor está mais cuidadoso nos trabalhos de colheita, esperando os grãos alcançarem o ponto ideal de maturação.
? A tendência é que a indústria tenha à disposição uma menor oferta de arábica mais fraco ? observa.
Em algum momento, portanto, o setor pode ter de disputar com o exportador o grão fino na base de quem oferecer o melhor preço.
? E as cotações do café devem continuar firmes pelo menos até o primeiro quadrimestre de 2012 ? prevê.
Nathan ressalta que há cerca de três ou quatro anos os produtores de café enfrentaram longo ciclo de baixas cotações, inclusive recebendo valores que não cobriam o custo de produção.
? A própria indústria também foi prejudicada porque o café custou a se valorizar, implicando dificuldades como baixo investimento, ausência de lançamentos de produtos, pouca aplicação de tecnologia e avanço das grandes torrefadoras sobre as menores ? explica.
Consumo
A Abic deve divulgar na quinta, dia 26, uma pesquisa sobre consumo de café no país. O resultado deve confirmar dados de 2010, os quais revelam que o produto é consumido por cerca de 97% da população adulta. Além disso, o consumo fora do lar continua em crescimento, assim como entre os mais jovens. O consumo também está mais seletivo, ou seja, a população tem saído do óbvio, demandando grãos especiais, tipo gourmet, certificados, entre outros.
? Esse item era um traço em pesquisas anteriores e agora já representa um número, mesmo que pequeno ? conclui Nathan.