Depois de concluída na região sul, a colheita deve começar na região norte do Estado, onde estão concentrados quase 90% das plantações. Este ano, foram cultivados 44,5 mil hectares, que devem produzir uma média de 1,6 mil kg de algodão em pluma, segundo a Conab, quantidade 11% superior à média nacional.
Apesar de a região ter solo e clima favoráveis ? o que explica a produtividade elevada ? as lavouras do Estado representam apenas 4% da área plantada em todo o país.
Para a Associação Sul-mato-grossense dos Produtores de Algodão (Ampassul), um dos motivos é a falta de incentivo do governo local à atividade. Um exemplo é o limite imposto para a exportação, pois apenas 40% da produção do Estado pode ser vendida para fora do país. Segundo os agricultores, a medida acaba comprometendo o investimento na cotonicultura.
O produtor rural Paulo Piaia explica que uma das estratégias comerciais é a venda antecipada em dólar. Por isso, limitar as vendas para o exterior acaba dificultando o poder de investimento do produtor, que calcula todos os seus custos na moeda americana. O ideal seria deixá-lo comercializar livremente, avaliando a maneira mais adequada para cada momento da economia.
Piaia plantou mil hectares de algodão em São Gabriel do Oeste, a 150 km da capital, Campo Grande. Ele reclama da falta de um fundo de amparo à atividade controlado pela iniciativa privada.
Para o produtor, hoje o governo estadual recolhe uma taxa para um fundo do algodão (Programa de Desenvolvimento da Produção Agropecuária – PDAgro), mas a aplicação destes recursos não é adequada. De acordo com ele, falta investimento em pesquisa, marketing e promoção e a melhor alternativa seria a criação de um fundo privado.
Alta de custos
A alta nos custos de produção também atrapalha o desenvolvimento da atividade. O plantio do algodão ficou pelo menos 30% mais caro que na última safra. Atualmente, cada hectare custa, em média, US$ 2,6 mil (aproximadamente R$ 4,1 mil), o que representa quase quatro vezes mais do que é gasto com as lavouras de soja.
Por isso, já existe previsão de queda na área plantada na próxima safra em São Gabriel do Oeste. Segundo o gerente comercial da cooperativa agrícola do município, Juliano Ribeiro, o futuro do algodão em algumas regiões do Estado pode estar ameaçado
De acordo com Ribeiro, a área destinada ao algodão na cidade deverá ser entre 25% e 30% menor na próxima safra (diante das movimentações de intenção de plantio já observadas) e que muitos irão apostar na soja ou até no milho, já que a diferença entre custos e benefícios é mais vantajosa para os grãos.