O estudo também confirma que o crescimento dos salários não acompanhou o avanço do Produto Interno Bruto (PIB) na última década. As primeiras previsões do relatório ? baseado nos dados publicados em outubro pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) ? previam crescimento máximo dos salários de 0,1% nos países industrializados e 1,7% em nível mundial.
No entanto, a crise obrigou a revisão dessas estimativas depois da preparação do relatório, e com base nos dados de novembro, “os salários reais em 2009 cairão 0,5% nos países industrializados e crescerão apenas 1,1% no mundo”, disse em coletiva de imprensa a chefe do Programa de Condições de Trabalho e Emprego da OIT, Manuela Tomei.
O crescimento de 1,1% dos salários mundiais “se deverá a que as economias emergentes ainda continuarão crescendo, mas mais lentamente”, destacou a especialista.
O relatório ressalta que os mais afetados serão os trabalhadores de salários baixos, “as classes médias também serão grandemente afetadas em muitos países”.
O estudo analisa o período entre 2001 e 2007, quando os salários médios reais cresceram 1,9% anualmente ou menos na metade de todos os 83 países analisados, onde está concentrada 70% da população mundial.
? Mas esses números escondem grandes diferenças entre regiões e países ? disse Tomei.
Nos países industrializados, o crescimento médio dos salários reais foi de 0,9%, e em países como Estados Unidos e Japão, não houve expansão. Por outro lado, o crescimento das remunerações foi de 10% em Rússia, China e Ucrânia.
Um dos destaques do relatório é que os salários médios cresceram menos que o PIB per capita no período entre 1995 e 2007, e a cada 1% de aumento adicional do PIB, os salários aumentaram apenas 0,75%.
? Isso parece ser uma prova indubitável de que o crescimento dos salários reais está atrasado a respeito do crescimento da produtividade ? destaca o relatório da OIT.
Em 70% dos países analisados, o relatório diz que “se observou sistematicamente uma tendência descendente da proporção do PIB destinada aos salários em comparação com os lucros das empresas e outras formas de renda”.
Levando em conta que a maioria dos consumidores é assalariada, Tomei destacou que as tendências da última década levaram a uma redução da capacidade de consumo, “embora, em alguns países, foi mantida mediante endividamento, mas não com aumento dos salários”. Por tudo isso, a OIT recomenda que os governos protejam a todo custo o poder aquisitivo dos cidadãos e estimulem o consumo interno.
A OIT sugere três medidas: encorajar os interlocutores sociais a buscar uma maneira de evitar uma redução maior da parte do PIB destinada aos salários a respeito da proporção atribuída aos lucros; aumentar os salários mínimos sempre que for possível; e complementar a negociação salarial com medidas de apoio à renda.
O relatório também conclui que, desde 1995, aumentou a desigualdade entre os salários mais altos e mais baixos em dois terços dos países analisados. Se as diferenças avançaram com mais rapidez em EUA, Alemanha e Polônia, em países como França e Espanha, essa disparidade diminuiu. Por outro lado, a diferença da remuneração entre gêneros ainda é elevada, já que as mulheres recebem entre 70% e 90% dos salários ganhados pelos homens.