Os números oficiais impressionam. Mato Grosso é disparado o Estado brasileiro com a maior área nas mãos de estrangeiros. São 844 mil hectares, em mais de 1,2 mil imóveis. O segundo lugar, Minas Gerais, está longe, com 491 mil hectares.
? Foi a necessidade que me fez entregar. Eles vieram em uma hora boa, o que me aliviou daquele problema que eu tinha. É lógico que quem está na agricultura gosta daquilo, gosta de ver a planta crescendo, só que você não vê retorno e vai perdendo o entusiasmo ? explica Trabachin.
A negociação foi feita com uma empresa argentina conhecida como “o telhar agropecuária”, considerada uma das maiores produtoras de commodities agrícolas do mundo. A companhia também atua no Uruguai, Bolívia e Paraguai. No Brasil, as operações começaram em Mato Grosso. Além de comprar, o grupo arrenda áreas e faz parcerias com produtores. A estimativa é que só na região de primavera do leste, uma das mais produtivas do Estado, a empresa controle mais de 200 mil hectares.
? Eu acho que, para mim, foi uma boa negociação. Eles são muito exigentes com relação à documentação, são muito rígidos. Para mim, os pagamentos foram feitos certinho, e para eles, irem para a região foi bom. Ajudou porque eles contratam mais mão-de-obra eles trabalham com mais tecnologia, então eles beneficiam a região ? avalia o produtor Walter Trabachin.
Segundo o presidente do Sindicato Rural de Primavera do Leste, Milton Rosseto, a discussão deve ser outra. Para ele, não dá para esquecer que o aumento de terras nas mãos de estrangeiros é conseqüência de uma série de dificuldades enfrentadas pelos agricultores.
? Nós vemos a questão da ampliação da área de produção mais como uma falta de capitalização do produtor. O agricultor tradicional, pequeno e médio, por falta de condições de levantar créditos para tocar a atividade, se vê forçado a vender sua propriedade ou até mesmo deixar a atividade rural. E isso tem tornado mais fácil para estes grupos fortalecidos, que têm facilidade de levantar créditos, consigam fazer os investimentos necessários ? defende Rosseto.
A Associação dos Produtores de Soja do Estado (Aprosoja) concorda. O problema, segundo a entidade, foi a perda de competitividade.
? É muito triste ver que depois de duas décadas de luta e de investimentos no Estado, hoje os agricultores não conseguem se manter na atividade, precisando arrendar as áreas ou mesmo se desfazer delas. Com esta realidade, se não houvesse o interesse de grupos estrangeiros, a situação poderia ser ainda pior ? constata o diretor da Aprosoja, Ricardo Arioli.