O professor queria entender porque os agricultores trabalham tanto e não têm o retorno financeiro almejado. Durante dois anos, ele pesquisou o comportamento dos sojicultores no município de Cristalina em Goiás e chegou à conclusão de que a forma preferida de venda com a comercialização antecipada para as tradings, antes mesmo de a soja ser plantada, acaba reduzindo em até 15% a renda de cada produtor rural.
? Ao fazer a opção pela trading o produtor perde dinheiro, perde bastante. Em termos nacionais se perde algo como R$ 500 milhões ? disse Santos.
Como falta financiamento para a produção agrícola, o dinheiro das tradings, sem burocracia, é um atrativo, pois surge como um adiantamento para a compra de fertilizantes e até mesmo das sementes. Porém, as empresas, geralmente multinacionais, cobram comissão elevada.
Para o autor do estudo, a situação seria bem diferente se os produtores investissem no mercado financeiro. Assim, a renda não seria comprometida com o deságio aplicado pelas tradings, mas esse sistema de comercialização ainda é visto com receio pelos produtores. Enquanto 60% da produção de soja são vendidos para as tradings, o mercado futuro não alcança 10% da safra.
? Está faltando mais acesso aos mecanismos do mercado financeiro que favoreçam o produtor, no caso, mais facilidade de acesso à Bolsa de Mercadorias e de Futuros, mais facilidade de acesso ao crédito bancário porque o problema de venda para a trading não é só um problema de garantir preço, é problema também de obter dinheiro para a produção, para a safra. A quantidade de produtores que estão descapitalizados é muito grande ? acrescentou Santos.
Segundo a Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec), o adiantamento da verba para o produtor tem custos que não podem ser ignorados. A Associação dos Produtores de Soja questiona esses valores e busca entendimento para a Anec para a revisão dos preços.