Se a queda das cotações de soja na Bolsa de Chicago, pressionadas pelo alto patamar dos estoques mundiais, afligiu produtores e ameaçou a rentabilidade desta e da próxima safra, a disparada do dólar no mês passado acalmou os ânimos e segurou a rentabilidade para o produtor – pelo menos por enquanto.
– O preço em Chicago, o prêmio e a margem diminuíram, mas o dólar subiu bem e compensou essa queda – diz o analista da Agroconsult, Marcos Rubin.
Em outubro, essa estabilidade não era nem sequer cogitada pelo produtor, que estava apreensivo com o cenário de preços. Com o dólar a R$ 2,50 e a cotação de soja por volta de US$ 9 o bushel na Bolsa de Chicago, a rentabilidade esperada no norte de Mato Grosso, por exemplo, para a safra 2014/15 era de R$ 128 por hectare – 80% a menos do que na safra anterior.
Para o ano que vem, a conta ficava no vermelho, com prejuízo de R$ 125 por hectare. O dólar deu uma reviravolta nesse cenário. Em março, tomando como base uma cotação a R$ 3,10, a rentabilidade da soja foi para R$ 798por hectare, superando a do ano passado.
Para a nova safra, a conta sai do negativo e vai a R$ 337. No norte do Paraná, a rentabilidade passou de R$341 para R$ 1.077 por hectare com a valorização da moeda americana.
– Ganhamos um ano com o câmbio, com uma margem melhor do que se estivéssemos olhando apenas para os mercados internacionais – destaca o analista da Agroconsult, André Pessôa.
Insumos
O mesmo dólar que tem segurado a renda do produtor, porém, também traz preocupações para a próxima safra, uma vez que o Brasil importa por volta de US$ 30 bilhões em insumos, por ano. A Agroconsult estima uma alta de 13% no custo de produção no norte de Mato Grosso para a safra 2015/16, e boa parte dessa conta sai em dólar. Aconsultoria projeta alta de 29% no preço de fertilizantes e 22% para os defensivos.
A perspectiva se agrava com incertezas quanto à oferta de crédito para a próxima, tanto de fontes públicas como privadas. A consultoria espera queda de 20% na disponibilidade de crédito aos agricultores. Na contrapartida, estima que serão necessários R$ 11 bilhões a mais de recursos para o plantio de soja, milho e algodão do que nesta safra, totalizando 94,8 bilhões de reais.
– Neste ciclo, notamos um retardamento tanto na comercialização da soja como na compra de insumos. O grande desafio deste ano é o crédito, que estará mais caro e mais escasso – traça Pessôa.
Das dívidas em relação ao câmbio, o preço da soja em dólar deve continuar pressionado.
– Tivemos uma safra boa nos Estados Unidos, na Argentina e no Brasil. As probabilidades de alta de preços são baixas – analisa Marcos Rubin