Alta do preço do boi influencia estudo sobre produção agropecuária

Pesquisadores dizem que valorização da arroba nos últimos meses viabiliza tecnologias mais sofisticadas e mais caras para o setorO aumento de preços da arroba do boi registrado nos últimos meses vai influenciar diretamente as pesquisas envolvendo a cadeia produtiva da carne. A expectativa é de pesquisadores da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) e do Sindicato Rural de Corumbá (MS).

O pesquisador Urbano Abreu, da Embrapa Pantanal, disse que a oscilação de preços no mercado influencia a pesquisa agropecuária de várias formas. A alta do preço viabiliza tecnologias mais sofisticadas e mais caras para o setor.

? É diferente o produtor adotar uma tecnologia com o bezerro valendo R$ 90 ou com o bezerro valendo quase R$ 800. Ele sente que vale a pena investir. Cria-se um clima para o produtor vir procurar tecnologia, surgem demandas por tecnologias mais sofisticadas ? afirmou.

De acordo com ele, a competição por áreas para a produção de etanol e biodiesel está tirando a pecuária de lugares tradicionais e avançando fronteiras.

? É o caso da pressão da pecuária sobre a pré-Amazônia e a Amazônia. Há demanda para pesquisas que indiquem como minimizar os impactos naquelas regiões ? disse.

Thiago Bernardino de Carvalho, da área de pecuária do Cepea, também vê íntima relação entre o mercado e a pesquisa.

? Na pecuária, principalmente, há ciclos de produção, e a pesquisa serve como base para mensurar riscos e impactos, positivos ou negativos ? explica.

Segundo ele, pesquisas da Embrapa, de outras instituições e mesmo as acadêmicas servem de apoio para todas as cadeias do agronegócio. Neste caso específico da alta de preços do boi, ele vê nas pesquisas a possibilidade de criação de modelos de equilíbrio e formas de planejar como o Brasil vai ofertar carne.

? O meio acadêmico tem ferramentas para dar suporte ao que ocorre no mercado. As pesquisas precisam estar à frente, mostrando alternativas para os setores que tomam decisões, seja na esfera púbica ou privada ? disse.

O Cepea monitora os preços do boi por meio de um convênio com a Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). A Embrapa utiliza essas informações pelo projeto Avisar, que reúne uma equipe de mais de cem pesquisadores, de diversas instituições, para quantificar os efeitos ambientais, sociais e econômicos dos diferentes sistemas de produção de bovinos de corte na Amazônia, no Cerrado e no Pantanal.

O projeto vai subsidiar políticas públicas voltadas a uma produção sustentável e mais equilibrada. Urbano disse que os resultados do Censo Agropecuário, realizado em 2007 pelo IBGE ? que também é parceiro no projeto ? serão utilizados pela equipe do Avisar. Eles devem começar a ser divulgados em setembro ou outubro.

Aumento

Quatro fatores explicam a alta de preços da arroba, segundo os pesquisadores. O primeiro é a exportação de carne, que está em alta. Segundo os pesquisadores Urbano Abreu, da Embrapa Pantanal, e Thiago Carvalho, do Cepea, o Brasil é o maior exportador e tem uma carne competitiva.

O segundo motivo é a redução do número de rezes de maneira geral no Brasil nos últimos anos.

? O preço descendente estimulou o abate de matrizes, o que resulta em falta de bezerros. O setor de cria foi o mais afetado, com preços bastante baixos ? disse Abreu.

Carvalho explica que há dificuldade de reposição de animais. Entre janeiro e julho, o preço subiu porque faltou boi.

? Em agosto entram no mercado os bois confinados ? explica ele.

O terceiro fator que contribuiu para a alta de preços foi o crescimento do consumo de carne.

? A tendência de ganho de renda do brasileiro se traduz em aumento do consumo de carne de boi. É churrasco todo fim de semana, independente da classe social ? ressalta o pesquisador da Embrapa.

O quarto fator que contribui para a alta de preços, de acordo com o pesquisador Cepea, é o aumento do custo de produção.

? O preço do sal mineral está muito alto, subiu demais ? disse.

Produção

O pecuarista e presidente do Sindicato Rural de Corumbá, Pedro Lacerda, concorda que se o produtor conseguir aumentar seus lucros, terá maior possibilidade de investir em tecnologias. Para ele, a descapitalização dos produtores impedia tais investimentos. Lacerda disse que essa alta nos preços de bovinos era prevista, mas afirma que o valor atual da arroba ainda não garante lucro aos produtores.

? Tivemos uma perda substancial nos últimos cinco anos e o retorno não é imediato. Houve um abate grande de fêmeas e isso explica a escassez de bezerros. A alta de preços ocorre porque existe essa dificuldade de reposição ? explicou.

O presidente do sindicato disse ainda que grandes invernistas optaram por investir na Bolsa de Mercadorias e Futuros em vez de comprar bois.

? Eles aplicavam o dinheiro e ficavam esperando o melhor momento para investir em gado ?  contou.

Segundo Lacerda, o custo de produção de um bezerro ainda é considerado alto ? R$ 78 e, para dar lucro, a arroba deveria estar custando de R$ 100 a R$ 120. Nesta terça-feira, dia 15, estava cotada a R$ 87.