O frio não impediu discussões acaloradas, em especial sobre um mecanismo para garantir dinheiro a quem preserva e recupera as florestas. Ambientalistas brasileiros aproveitaram para criticar as propostas do Ministério da Agricultura, que quer flexibilizar o Código Florestal no país. Na semana passada as ONGs se retiraram das negociações, em sinal de protesto. No entanto, elas prometem continuar fazendo pressão no Executivo e no Legislativo. Querem conseguir até apoio dos ruralistas para normas mais rígidas.
? Nós reconhecemos que a legislação hoje não reflete muitas vezes certas necessidades e a realidade do campo. Entretanto, não dá pra gente esquecer que está o mundo inteiro na Polônia discutindo os efeitos das mudanças climáticas, que o Brasil e os próprios agricultores já vêm sentindo. Não dá pra desconsiderar o papel que uma legislação florestal consistente tem a cumprir neste caso ? alerta Adriana Ramos, do Instituto Socioambiental.
? Você tem todo um setor de agropecuária, com muito boas empresas, muito interessantes e outras nem tanto. Infelizmente, quem está ganhando este debate hoje é este setor mais retrógrado, que não está acompanhando a evolução da atividade agropecuária nem a evolução da sociedade global como um todo, que exige que o país tome uma posição ? opina Alexandre Prado, da ONG Conservação Nacional.
No Brasil, a Confederação da Agricultura e Pecuária (CNA) concorda que é preciso estar atento às mudanças climáticas, mas ressalta que uma reformulação do Código Florestal precisa manter a competitividade dos produtores.
? Temos uma grande quantidade de área degradada que pode melhorar e não precisamos desmatar para ter mais produtividade. Precisamos é de regras. É preciso separar o que é produtor, grileiro, desmatador e madeireiro. Hoje se fala em desmatamento e o que vem à mente da sociedade é o produtor rural ? diz o técnico da Comissão do Meio Ambiente da CNA, Nelson Ananias Filho.
De acordo com ele, a entidade está aberta ao diálogo e quer uma alternativa para a coletividade, mas defende que as alterações na norma ambiental respeitem a realidade brasileira.
? Grande parte do PIB brasileiro está concentrado no agronegócio. Não se pode cortar com um fundo ambientalista a atividade que mais gera divisas para o país.
Em nota, o Ministério da Agricultura disse que não apóia a anistia a desmatadores. A pasta afirma que defende desmatamento zero e ressalta ainda que as alterações no Código Florestal estão apenas em debate e nenhuma decisão foi tomada.