Ainda não está afastada a possibilidade de redução da safra em razão da estiagem. Mas quem produzir deverá vender a saca a valores que, se não chegam ao recorde de 2008, recuperam parte da queda após o agravamento da crise internacional.
? O forte consumo chinês, a volta dos investimentos em commodities no mercado internacional e a perspectiva de seca nos fazem esperar que o bushel possa bater os US$ 12,50 no início da colheita ? avalia o diretor da Capital Corretora de Mercadorias, Farias Toigo.
Após o pior da turbulência nos mercados internacionais, os fundos de hedge estrangeiros voltaram a apostar em commodities, explica Toigo, por considerarem um porto mais seguro ante a crise. Assim, se no início de dezembro o bushel foi vendido a US$ 7,75 na Bolsa de Chicago, nessa terça, dia 6, já fechou cotado a US$ 10,14.
Outro fator importante para a expectativa de um preço melhor para a oleaginosa é a voracidade do mercado chinês, que deverá comprar cerca de 18% do grão exportado em 2009, segundo previsão feita em dezembro pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos. O órgão também identificou que a demanda no mundo baterá um novo recorde: devem ser consumidas 232 milhões de toneladas da safra 2008/2009, ante as 229,96 milhões de toneladas de 2007/2008.
O presidente da Associação Brasileira de Agribusiness no Rio Grande do Sul (Abag-RS), Antônio Wünch, diz que o aumento no consumo de soja é uma boa notícia para o produtor gaúcho. Ele afirma que a estiagem, somada a fatores como a alta de alguns custos da lavoura e do acesso mais restrito ao crédito, deverá acarretar redução na produtividade no Estado. Na soma, Wünch aposta que o produtor sairá ganhando.
? Se aumenta o consumo e há redução de produção, isso significa aumento de preço. Uma coisa compensa a outra ? afirma.
Toigo, da Capital Corretora, avalia que neste ano as vendas do produto também serão diferenciadas. Enquanto em outras safras até 40% da produção era vendida antecipadamente, as negociações no mercado futuro atualmente estão “praticamente paradas”, conta. Ou seja, a maior parte das transações poderá se beneficiar de um preço maior na Bolsa de Chicago.
Ainda há risco de quebra da safra no sul do país
Para a analista da Agrural Commodities Agrícolas Daniele Siqueira, o produtor do sul do país, especialmente no Rio Grande do Sul e Paraná, ainda não deve comemorar. Isso porque há a possibilidade de alguma quebra de safra, que se concentraria nesses Estados. Daniele avalia que não há certeza, ainda, sobre o tamanho do potencial de perda com a estiagem, mas os produtores do Sul, assim como na Argentina, devem ser os mais afetados.
? Os preços não devem chegar aos patamares históricos do ano passado, e podem compensar no geral. Mas, isoladamente, quem tiver perdas na produção pode não cobri-las com a venda ? alerta Daniele.