Ano encerra com alto estoque de passagem e redução de área

Lucratividade dos produtores foi baixa ao longo do ano, apesar do aumento de preços nos últimos meses de 2014Não foi um ano muito promissor para os produtores de milho. A estiagem e a supersafra dos Estados Unidos contribuíram para a queda dos preços. Para piorar a situação, 2014 se encerra com um dos maiores estoques de passagem dos últimos anos.

O cenário do milho em 2014 foi marcado por altos e baixos. Para Adilson Olivatto, produtor rural de Monte Mor, no interior de São Paulo, o ano foi ruim.

– O último ano foi um desastre aqui na nossa região. A gente costuma colher em torno de 150 sacas por hectare, esse ano, infelizmente por causa da seca, o máximo que produzimos foi 60 sacas por hectare na área de sequeira – conta Olivatto.

Em meados do ano, na região de Bragança Paulista (SP), a estiagem prolongada provocou quebra na produção, chegando a comprometer 60% das lavouras.

Já em São Gabriel do Oeste, em Mato Grosso do Sul, o clima ajudou e a produtividade cresceu, superando as 100 sacas por hectare. Realidade bem diferente do restante do país. 

No segundo semestre, com a entrada da segunda safra e a consolidação da safra americana, os preços voltaram a cair. Mas a exportação do grão ganhou fôlego no fim do ano, em consequência de problemas com o escoamento da produção norte-americana.

– Quando veio setembro, a gente começou a exportar muito mais fora da janela de oportunidades de entressafra de lá, junto com a colheita da safra norte-americana – relembra a analista de mercado Amarillys Romano.

Outro analista, Glauco Monte, diretor de commodities da Consultoria FCStone, comenta que o estoque de passagem era alto em 2014, porém a quebra da segunda safra devido à seca e também a preocupação em relação à redução de área em Mato Grosso, elevou os preços no primeiro semestre, dando maiores oportunidades de venda antecipada ao produtor.

Mas mesmo com boas chances de comercialização, produtores do Triângulo Mineiro reclamaram dos custos de produção, que aumentaram em 25%. Na região, algumas propriedades não conseguiram cobrir os custos.

Para 2015, os analistas do setor acreditam que o cenário vai ser bem parecido com 2014, porque o estoque de passagem deve continuar alto. Mas alguns fatores podem ajudar a melhorar os preços do milho no primeiro semestre.

– Um deles é a questão da safra verão. Ela deve ser menor, então, para o primeiro semestre a gente deve ter uma entrada de produção no mercado interno menor do que a gente teve no passado, apesar do estoque de passagem. Tem a questão dos Estados Unidos, hoje a soja está valendo muito mais que o milho, podendo fazer com que os preços internacionais melhorem. Então, aquela barra de exportação, que baliza os preços, ela pode trabalhar um pouco mais elevada, o que ajudaria a manter preços no mercado interno um pouco mais altos – indica Glauco Monte.

Para o milho, Olivatto diz que a expectativa é boa em relação a preço. O mercado continua subindo e a expectativa é que chegue em abril na faixa de R$ 27, R$ 28. Já o analista Aedson Pereira acredita que a volatilidade vai continuar. O clima é que deve ditar o comportamento de preços do grão.

– Até esse período, a condição dos preços do milho ainda vai registrar extrema volatilidade, aí o que vai direcionar o comportamento do preço no mercado brasileiro serão os resultados da safrinha, que começa a ser plantada no mês de janeiro/fevereiro. Aí, o desenvolvimento do clima em relação aos seus impactos na lavoura vai determinar como é que vai se comportar o preço do milho – afirma Pereira.