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Apesar da alta cotação do cacau no exterior, baixa do dólar prejudica produtor brasileiro

Chefe do Centro de Pesquisas do Cacau acredita que política cambial desfavorece quem plantaO mercado internacional de cacau está com demanda aquecida. E desde o conflito na Costa do Marfim, maior produtor mundial do fruto, os preços estão elevados. Apesar disso, por causa da baixa cotação do dólar, o produtor brasileiro nem sempre é beneficiado.

O mercado de cacau depende de dois fatores: a cotação do mercado futuro na bolsa de Nova York e a compra interna da indústria de chocolates. O diretor da Indústria e Comércio de Cacau Ltda (Indeca), Luis Aguire, afirma que desde o conflito no país africano, as cotações estão subindo. Os valores estão acima de US$ 3 mil. Mas para ele, a indústria processadora de cacau no Brasil não sofre tanta influência deste cenário porque consegue repassar a alta nos preços.

? Nós, como somos uma processadora, o preço em si não nos afeta. Agora, é claro, que para uma firma final, que vende na prateleira, essa sim, porque ela tem um limite que o consumidor está disposto a pagar ? disse Luis Aguirre.

O chefe do Centro de Pesquisas do Cacau (Cepec) da Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac), Adonias de Castro, avalia que a política cambial se torna desfavorável ao produtor. Com o dólar baixo, mesmo que os preços do cacau subam no mercado internacional, muitas vezes o valor fica mais baixo no Brasil.

O produtor brasileiro recebia em media R$ 85 pela arroba de 15 quilos de cacau no ano passado, mas até junho deste ano esta média de preço caiu para R$ 81. Outra preocupação são os custos com a mão-de-obra.

? A mão-de-obra no Brasil tem um aumento anual e isso depende das condições do mercado, porque o cacau depende muito do que acontece na bolsa. Enquanto que esses preços são aumentados praticamente por decreto ano a ano, é possível que a margem do produtor vá sendo diminuída, sobretudo, porque a lavoura é muito pouco mecanizável ? falou Adonias de Castro.

Apesar das dificuldades, a perspectiva para o cacau é otimista. A demanda está aquecida no mundo e também no Brasil. O país é o sexto maior produtor mundial, produz uma média de 180 mil toneladas de cacau por ano, volume insuficiente para atender a indústria, que acaba importando o fruto. Mas quando o assunto é um produto derivado do cacau, o Brasil tem posição privilegiada.

O Brasil é o quarto maior consumidor de chocolate do mundo. Produz, em média, 500 mil toneladas do produto. E a tendência é de crescimento. Todos os anos, o consumo de chocolate aumenta 10% no país.

? Normalmente a gente tinha uma sazonalidade mais marcada para o terceiro trimestre do ano, quando começa a campanha da Páscoa. Agora a gente está sentindo que essa pressão começa a ser constante ao longo do ano. Existe uma sazonalidade, mas em termos de compra de ingredientes não existe uma demarcação tão forte ? observou Patrícia Moles, presidente da Associação das Indústrias Processadoras de Cacau (AIPC).

A especialista em chocolates, Juliana Badaró, trabalha em uma empresa voltada para o chamado mercado do chocolate de luxo, a Harald. Segundo ela, este nicho cresce quase 20% ao ano. Ela diz que existe consumidor disposto a pagar alto para degustar este tipo de chocolate.

? É um mercado que valoriza a questão da saúde, o status, o valor agregado e um produto de qualidade. Então, ele não se importa de pagar mais por um produto diferenciado ? disse Juliana Badaró, chef chocolatier da Harald.

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