Traços do fungicida carbendazim, que estudos relacionam ao aumento do risco de tumores no fígado em animais, foi encontrado em suco de laranja produzido no Brasil e exportado aos EUA. O Brasil é responsável por 41% das importações dos Estados Unidos, de acordo com dados oficiais. Além do Brasil, o carbendazim é usado em vários países da União Europeia, por exemplo, mas seu uso é vetado em pomares de laranja norte-americanos.
Também está em testes o suco que já foi colocado à venda no mercado norte-americano. Isso porque geralmente o produto contém uma mistura de suco importado e produzido domesticamente, de acordo com a porta-voz da FDA Siobhan DeLancey. Se traços do fungicida forem encontrados, a agência vai informar o público e tomará as medidas necessárias para assegurar que o produto seja removido do mercado, segundo a porta-voz.
Coca-Cola
Para o porta-voz da Coca-Cola Dan Schafer, a medida pode provocar graves consequências. A companhia produz o suco da marca Minute Maid.
– O suco brasileiro é seguro e sempre foi. Essa é uma questão que causa impacto a toda empresa que fabrica produtos nos Estados Unidos contendo suco de laranja do Brasil – afirma.
Governo diz não ter sido notificado sobre suspensão
O Ministério da Agricultura informou, nesta quarta, dia 11, não ter sido notificado oficialmente até o momento pelos Estados Unidos sobre a possível suspensão das importações. Segundo a assessoria de imprensa do órgão, o secretário de relações internacionais da Pasta, Célio Porto, está em contato permanente com as autoridades norte-americanas.
Por meio de nota divulgada nesta quarta, o ministério fez questão de esclarecer que o carbendazim é registrado para uso em lavouras de citros (laranja, limão, lima, tangeria, entre outros) há 21 anos. A substância é utilizada na citricultura para combater a pinta-preta, um tipo de fungo comum em pomares de laranja.
A quantidade autorizada pelo Ministério para produtos destinados à exportação segue o limite estabelecido pelo Codex Alimentarius, programa conjunto da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO) e da Organização Mundial da Saúde (OMS) que normatiza regras que garantem a segurança dos alimentos em todo o mundo. O Codex estabelece o limite de um miligrama de fungicida por quilo de citrus, o que equivale a mil partes por bilhão.
Bayer diz não ser possível relacionar Derosal ao suco com fungicida
Notícias Relacionadas
A Bayer CropScience publicou nota informando que “os traços de fungicida identificados no suco de laranja exportado para os Estados Unidos são de carbendazim, ingrediente ativo de diversos produtos disponíveis no mercado brasileiro para a citricultura, e não especificamente do fungicida Derosal”, uma das marcas comerciais da companhia no Brasil.
A empresa “reforça ainda que tal produto está devidamente registrado para uso na citricultura brasileira”. O registro da Bayer para o produto foi feito em 1991 no Ministério da Agricultura. Atualmente, nove fungicidas a base de carbendazim são comercializados no Brasil para o uso em citros, quatro da Bayer, dois da Cropchem, um da Du Pont, um da Nufarm e outro da Rotam.
A assessoria de comunicação da Bayer enfatizou que, portanto, não é possível afirmar que traços do Derosal, especificamente, foram encontrados na carga de suco de laranja dos Estados Unidos. Apesar de não poder ser utilizado no mercado norte-americano desde 2009, o produto é aceito por todos os outros clientes do suco de laranja do Brasil.
Números
O CEO da Informa Economics FNP, Maurício Mendes, aponta que cerca de 15% do suco de laranja exportado do Brasil vão para os Estados Unidos. Em entrevista ao programa Mercado e Cia, do Canal Rural, ele afirma que o volume embarcado para o mercado norte-americano representa US$ 300 milhões por ano. E acrescenta que 80% do suco consumido pela população dos EUA é misturado ao produto brasileiro.
Cargas podem ser rejeitadas
A FDA começou a testar todas as importações de suco de laranja contra fungicida e o suco importado será mantido nas alfândegas até que possa ser testado. A afirmação é da porta-voz da agência do governo Siobhan DeLancey. Segundo ela, os carregamentos que apresentarem mais de 10 partes por bilhão de fungicida serão rejeitados. E acrescenta que a FDA se dispõe a destruir o suco, se esta for a opção do importador.
Nos casos de testes positivos no nível de 80 partes por bilhão ou superior, a FDA “vai dar os passos necessários para a remoção (do suco) do mercado”. Ainda de acordo com Siobhan, os inspetores se concentrarão primeiro nas marcas dos Estados Unidos, que acreditam ter porcentagem elevada de suco brasileiro.
Confira a entrevista do analista de mercado
Maurício Mendes para o Mercado & Cia:
