Sentada sobre um amontoado de ferros retorcidos, Viviana Campos observa o avanço dos blindados pela Avenida Las Carreras, uma das principais de Concepción. Ao ver que o exército do Chile finalmente havia chegado à cidade arrasada, a enfermeira de 32 anos comemora:
? Queremos que acabem com isso tudo, queremos que nos tragam um pouco de paz, um pouco de ordem ? diz ela.
Duas quadras acima, um casal corre agarrado a pacotes com pão, farinha e cerveja. Os militares atiram para o alto, mas ninguém para. Os disparos abrem apenas uma “clareira” em meio à turba que cerca o Supermercado Caponi, um dos tantos prédios destruídos pelo terremoto de sábado passado, que deixou pelo menos 723 mortos, conforme o último balanço.
Em Concepción, segunda maior cidade do Chile e uma das mais atingidas pelo tremor, os saques se sucederam nessa segunda, dia 1°, durante todo o dia, apesar do toque de recolher imposto pelo governo e do envio de soldados à região. Homens, mulheres, jovens e idosos, com sacolas e bolsas, espreitavam os escombros e carregavam o que podiam. Depósitos e um supermercado em chamas, aparentemente incendiados pelos saqueadores, davam ainda mais trabalho aos bombeiros envolvidos no resgate de vítimas. Nos postos de combustíveis, filas de carros se estendiam por quilômetros. Elas só avançariam quando fosse restabelecida a eletricidade ? e não havia previsão para isso.
A reportagem de Zero Hora entrou na segunda às 16h30min em Concepción (17h30min pelo horário de Brasília), seguindo um comboio do exército. Moradores que perderam as casas e ficaram acampados em um estacionamento na entrada da cidade acenavam para os soldados, colunas de fumaça negra de prédios em chamas formavam uma espécie de pórtico logo na entrada, prédios no chão e casas destruídas não demoraram muito para surgir. O símbolo maior das ruínas em Concepción é o edifício Alto Río ? seus 15 andares viraram uma montanha de entulhos. Na madrugada de sábado, cerca de uma centena de pessoas dormiam no prédio, e até agora apenas 63 foram tiradas com vida. Ainda há dezenas de corpos sob os escombros ? e, possivelmente, alguns sobreviventes.
Às 19h45min, as ruas começaram a se esvaziar com o toque de recolher. Em uma tentativa de recuperar o controle, o governo decidiu ampliar a medida na região de Concepcíon, que passa a valer agora das 20h até o meio-dia do dia seguinte. Até então, ia das 21h até as 6h. Na primeira noite do toque de recolher, de domingo para segunda, 55 pessoas foram presas por violar a medida e uma morreu, atingida por um tiro, em Chiguayante, perto de Concepción.
Também na segunda, um avião com seis pessoas caiu nas imediações de Tomé, depois de decolar de Concepción. A aeronave se dirigia a uma das áreas atingidas pelo terremoto. Todas as pessoas a bordo morreram.