Depois de cinco anos de estudo, a entidade conseguiu chegar a uma variedade de laranja tolerante ao cancro-cítrico, considerada uma das principais doenças da citricultura. A entidade também trabalha para obter uma planta resistente ao greening.
A família do citricultor Mauro Sandoval Silveira planta laranja há mais de 40 anos. Apesar de ele nunca ter tido problema com câncro no pomar, sabe que não dá pra relaxar nos cuidados.
? O cancro sempre foi, há mais de 30 anos, um problema grave pra citricultura. Pode causar grandes prejuízos para o citricultor ? disse Silveira.
O câncro-cítrico é causado por uma bactéria e atinge todas as variedades de citros. O mais preocupante é que, como não há forma de eliminar a doença por completo e ela é altamente contagiosa, os citricultores têm que erradicar as plantas doentes e todas as outras em um raio de 30 metros.
Em São Paulo, o câncro está sob controle. Em 2009, apenas 0,14% dos pomares registraram o problema, segundo o Fundecitrus. Porém, quem acompanha a evolução da doença afirma que logo ela vai voltar a preocupar os citricultores paulistas.
? O cancro cítrico, embora atualmente esteja contido em algumas regiões do Estado, existe uma tendência de ele se esparramar mais no Estado. Porque a legislação de controle do cancro cítrico ela foi mudada e isso pode fazer com que muitos produtores venham a perder o controle do cancro dentro do pomar ? disse o diretor do Centro de Citricultura, Marcos Machado.
Alguns pés de laranja estão aguardando liberação para serem testados em campo. Nos testes em laboratório, boa parte deles apresentou tolerância de até 80% ao cancro-cítrico. Para isso, os pesquisadores nem precisaram chegar a uma muda transgênica, transportando genes de uma planta para outra. O que eles fizeram foi ampliar a capacidade de defesa dos genes da própria planta, numa técnica conhecida como eugenia. Os resultados animam citricultores como Silveira.
? É uma felicidade o encontro dessa variedade que pode fazer com que esse risco nós não tenhamos mais daqui pra frente. Você passa a não ter o risco da doença, na medida em que você tem os pés resistentes, é um risco que você não precisa contabilizar dentro do pomar ? disse o produtor.
Porém, o pesquisador Marcos Machado explica que é preciso ter paciência, pois a expectativa é que a liberação para testes de campo saia daqui um ano. As mudas só devem começar a ser usadas comercialmente depois de cinco anos. Enquanto isso, a equipe continua trabalhando para, quem sabe, chegar uma laranja tolerante ao greening, a mais temida doença da citricultura atual. Nesse caso, o desafio dos pesquisadores é ainda maior.
? Não existe um gene de resistência típico qaunto ao greening, diferente de cancro cítrico que sabemos que existe. Mas, no caso do greening, ainda não conhecemos. Tudo o que nós fizemos nesses últimos cinco anos com greening, revelam que não existe fonte de resistência ? explicou Machado.