Apesar de representar menos de 3% da produção nacional, o trigo paulista é competitivo, já que o Estado é o maior consumidor do país, consumindo mais de três milhões de um total de 5,4 milhões de toneladas produzidas no Brasil.
Em 2008, a Secretaria de Agricultura, em parceria com o Sindicato dos Moinhos de São Paulo, lançou uma espécie de campanha para incentivar a produção de trigo no Estado. Os produtores recebiam as sementes e em troca tinham o compromisso de vender pelo menos metade da produção às indústrias. A ideia foi bem recebida, e muitos produtores investiram mais na cultura. Porém, o mercado não ajudou.
Uma pesquisa do Instituto de Economia Agrícola divulgada este mês mostrou que os triticultores paulistas receberam cerca de R$ 27 pela saca de trigo em março. O preço está abaixo do recebido em março dos últimos três anos e, ainda, é inferior ao mínimo estabelecido pelo governo: de R$ 31,80.
Em Votorantim, a cem quilômetros de São Paulo, a área de 120 hectares do produtor rural Odair de Oliveira, atualmente vazia, já chegou a render 360 toneladas de trigo. Porém, desde 2008, ele desistiu da cultura, que, no caso dele, se tornou sinônimo de prejuízo.
Hoje, Oliveira ganha dinheiro alugando a plantadeira de trigo para outros produtores da região. Um deles é o produtor José Norberto Miranda que começou a plantar o grão há três anos. Ele estava satisfeito, mas no ano passado também teve problemas de rentabilidade. Resultado: reduziu a área de 182 para 148 hectares nesta safra.
O trigo vendido no início deste ano é da safra de inverno do ano passado, que sofreu bastante com o excesso de chuva. O pesquisador do Instituto Agronômico de Campinas (IAC) João Carlos Felício explica que, nas principais regiões produtoras de São Paulo, a chuva ficou muito acima da média. A qualidade do grão, inclusive das sementes de alto rendimento distribuídas na campanha do governo, foi prejudicada.
O cenário de qualidade e preço baixo deve resultar em uma redução de pelo menos 17% da área de trigo em São Paulo. Para o pesquisador, a necessidade de incentivar o plantio é cada vez maior.