A fila de espera corresponde a mais de um quinto das exportações anuais de 2008. E o Brasil sabe onde aperta o sapato: o país, que representava 71% das importações da Argentina em 2005, caiu para 43% no primeiro quadrimestre deste ano. Em compensação, os países de fora do Mercosul ? entre os quais a China ? saíram de 25% em 2005 para 54% nos últimos quatro meses.
? A situação é crítica. Está em jogo a exportação de empregos. O governo brasileiro deixou a negociação com as entidades, então o governo argentino está ditando regras. Exige que o distribuidor tenha produção lá para importar ? reclama Micheline Grings Twigger, diretora de comércio exterior da Picadilly, uma das marcas brasileiras mais visíveis nas vitrinas portenhas.
Para fábricas de sapatos femininos como a Picadilly, prazo é fundamental. Por isso, prepara um teste para finalizar calçados na Argentina. Vai levar cabedais ? partes de cima do sapato ? e solados de chinelos e sandálias. Depois de mostrar essa disposição, o distribuidor local conseguiu liberar dois terços das encomendas. No entanto, a terceira parte segue sem perspectiva.
? Seria lamentável reduzir a operação no Brasil e dispensar pessoas, nesta situação, por decisão argentina e indecisão brasileira ? diz Micheline.
Por que é importante
> A Argentina é o segundo maior comprador de calçados brasileiros. Essas vendas ajudam a sustentar empregos no Brasil e no Estado, onde se concentram as indústrias de sapatos femininos, mais dependentes da moda e da estação do ano.
> Desde setembro de 2008, a Argentina aumentou restrições para a entrada de produtos brasileiros. O instrumento mais usado é a licença prévia de importação ? antes de levar a mercadoria até a fronteira, o exportador precisa obter um documento autorizando a entrada.
> Até meados de 2008, os argentinos cumpriam as regras internacionais, de prazo de 60 dias entre o pedido e a autorização. Com o agravamento da crise global, no segundo semestre do ano passado, esse período começou a se estender para quatro e até seis meses. Ou seja, transformou-se numa barreira à entrada de produtos brasileiros.