– Será exportado até o último grão excedente de trigo depois de garantido um preço razoável para o pão dos argentinos – disse o ministro aos representantes da cadeia de trigo em reunião.
Prestes a iniciar a implantação da nova safra 2014/2015, o setor tinha esperanças de que o governo emitiria algum sinal de estímulo por meio da liberação de novos embarques ao exterior.
– Não é fácil mudar o rumo deste governo – disse o presidente da Associação Argentina de Trigo (Argentrigo), Matías Ferreccio.
O presidente da Argentrigo espera que o governo segure a exportação pelo menos até agosto. Ferreccio lembrou que, no ano passado, os moinhos locais ficaram sem trigo e o preço interno do produto disparou e chegou a tocar a casa dos US$ 750 por tonelada em setembro.
A alta provocou forte impacto no preço dos alimentos em um contexto de inflação anual de 26%.
– O governo não quer repetir essa experiência e, pelo jeito, só deve liberar o trigo restante entre outubro e novembro, após garantir o abastecimento interno e quando estiver bem próximo do início da colheita da nova safra – lamentou Ferreccio.
Mais otimista, Armando Casalinf, da Federação de Silos, acredita que, no máximo, até o fim de maio ou em junho será autorizada a liberação de mais 500 mil toneladas.
– É muito difícil fazer uma previsão de quando vão liberar. Mas creio que dentro de uns 20 dias liberarão umas 500 mil, porque não podem deixar para liberar tudo para o ano que vem ou para o final do ano. Se o mercado brasileiro não estiver abastecido vai buscar trigo de outra origem, e a Argentina não perder esse mercado – diz.
A área a ser cultivada com o cereal deve ter uma elevação de 18%, a 4,1 milhões de hectares, calculou o analista da consultoria Globaltecnos, Sebastián Salvaro.
– Este aumento ocorre especialmente pela própria necessidade do produtor de fazer a rotação de cultivos – justificou.
O mercado estima que a estiagem nos Estados Unidos e o conflito entre Ucrânia e Rússia vão sustentar os preços do cereal. No entanto, o impacto é relativo na Argentina porque o governo controla as exportações por meio de cotas. A produção deverá ser da ordem de aproximadamente 12 milhões de toneladas. A demanda doméstica é de 6 milhões a 6,5 milhões de toneladas.
O aumento da área plantada com trigo animou o ministro de Economia, que fechou um acordo com o setor para evitar que o preço interno do produto dispare. Os exportadores de grãos se comprometeram a abastecer o mercado diante de qualquer variação que possa ocorrer no valor interno. O acordo existe desde 2009, mas agora foi incluída uma cláusula gatilho que obriga os exportadores a vender aos moinhos 500 mil/t pelo preço FAS teórico, calculado a partir do valor FOB (free on board), menos impostos de exportações (retenções) e gastos de comercialização. O valor é publicado diariamente pelo Ministério de Agricultura. A cláusula será disparada em caso de o preço interno superar, durante cinco dias consecutivos, o valor FAS teórico.
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