Com o gesto, o governo argentino tenta melhorar sua relação com o setor produtivo. Devido às constantes intervenções no mercado do cereal, o plantio caiu este ano em cerca de 20%.
– No último ano tivemos 4,7 milhões de hectares cultivados com o cereal e hoje todas as projeções indicam uma redução de 15 a 20%, para 3,8 milhões de hectares – disse o analista de agronegócios Gustavo López, diretor da consultoria Agritrend.
Em seus cálculos, a produção do trigo, cuja colheita começa em novembro, deve somar 11,5 milhões de toneladas. Segundo López, o governo está autorizando a exportação aparentemente com dois objetivos: tentar reverter a intenção de queda no plantio e assegurar recursos para a economia local.
– Há tempo para isso, porque até agora só foram implantados 30% da área e isso é muito pouco para essa época do ano. Se vender essas toneladas anunciadas, o governo teria agora nas mãos US$ 360 milhões sobre uma venda que ocorrerá dentro de seis meses. Talvez os produtores se vejam motivados com o anúncio – afirmou.
O trigo é o cultivo que mais sofre com as intervenções oficiais, desde 2007, e os produtores têm migrado para outros produtos menos controlados. Durante o anúncio, Boudou disse que a medida serve para dar certezas ao sistema de comercialização.
– A cadeia se comprometeu a garantir um volume de 6,5 milhões para o mercado interno – afirmou.
É a primeira vez que o governo autoriza a venda externa de todo o excedente a ser produzido de uma vez só, sem cotas, como nos anos anteriores. Se a estimativa privada de produção for confirmada, faltaria 1,5 milhão de toneladas para atingir o volume de exportação anunciado por Boudou. O governo ainda não divulgou suas projeções para a nova safra de trigo, mas o anúncio de hoje permite inferir que o Ministério de Agricultura estima uma colheita de pelo menos 12,5 milhões, um volume inferior aos 13,2 milhões da safra 2011/2012. No ano passado, 8,5 milhões de toneladas foram autorizadas para exportação, das quais um milhão de toneladas ainda não foi embarcada por tratar-se de trigo de baixa proteína.