CENÁRIO

Arroz do Rio Grande do Sul perde área, mas ganha qualidade

A safra 2023/24 de arroz está em andamento no Rio Grande do Sul, principal estado produtor e que responde por cerca de 70% da produção nacional

cultivar arroz irrigado em lavoura, grãos e panícula
Foto: Paulo Lanzetta/Embrapa Clima Temperado

A safra 2023/24 de arroz está em andamento no Rio Grande do Sul, principal estado produtor e que responde por cerca de 70% da produção nacional.

O plantio, que já deveria estar concluído até metade de novembro, ainda está sendo realizado.

Conforme o levantamento semanal feito pelo Instituto Rio-Grandense do Arroz (Irga), o estado alcança 88,36 % da área de intenção de semeadura.

A Região Sul é a mais adiantada e está praticamente encerrando a semeadura, com mais de 99%.

Os maiores problemas estão na Região Central que atinge 67% e ainda tem 40 mil hectares para serem semeados.

A região sofreu com as enchentes nas últimas semanas que causaram prejuízos nas áreas semeadas, levando ao replantio ou até abandono de áreas.

“Nossa janela ideal de plantio encerrou em 15 de novembro e ainda estamos semeando. Esse atraso pode impactar em uma baixa de produtividade de 5 a 10% caso o El Niño se confirme com força no verão. Com o arroz plantado mais tarde o período reprodutivo fica para fevereiro que não tem a luminosidade ideal para a cultura”, explica o presidente da Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz), Alexandre Velho.

A entidade confirmou que a safra deve repetir números parecidos com a anterior, somando 7 milhões de toneladas no estado. Com relação a área plantada pode haver pequeno aumento. A estimativa inicial era de 902 mil hectares.

Soja por arroz

Com o clima mais chuvoso muitas áreas de várzea sofreram com alagamentos e o excesso de umidade impede a semeadura da soja.

A cultura ganhou espaço nas últimas safras, no consórcio com a lavoura arrozeira, e chegou a ultrapassar 500 mil hectares no ciclo 2022/23 no Rio Grande do Sul.

O produtor Ronald Waterkemper, que produz arroz há 40 anos no município de Charqueadas (RS) passou a apostar também na oleaginosa.

Nesta safra planejou plantar 730 hectares com arroz e mil hectares com soja.

O clima adverso fez ele repensar a estratégia. “Tem lavouras ali que ficaram muito tempo embaixo d’água então reduzimos a soja para 860 hectares e nesse restante vamos colocar arroz”, comenta.

O consórcio de soja com arroz tem trazido bons resultados para ambas culturas. Por serem de perfis diferentes há quebra no ciclo de pragas, doenças e plantas daninhas e aporte de produtividade.

“Depois que coloquei a soja no sistema a produção de arroz aumentou de 3 a 4 mil quilos por hectare. Uma rentabiliza a outra. Não pretendo deixar de plantar arroz porque é uma oportunidade em anos de muita chuva e também nos ajuda no sistema de gestão dos custos”, conta o produtor.

Qualidade disputada

Além de abastecer o mercado interno, o arroz gaúcho também quer conquistar mercados, especialmente os da América Central em países como Nicarágua, Panamá e Costa Rica.

Em 2022 houve um recorde de exportações de arroz brasileiro, na casa de 2,1 milhões de toneladas.

No primeiro semestre de 2023 já são 852,3 mil toneladas, 20% a mais do que no mesmo período do ano passado. Grande parte deste produto tem como origem o Rio Grande do Sul.

“Temos o México já como um mercado consolidado, que importa cerca de 1 milhão de toneladas por ano e isso se deve muito à qualidade do nosso arroz que tem se destacado e vem atraindo novos compradores”, destaca o dirigente da Federarroz.

Essa oportunidade no mercado externo ajuda a pressionar os preços no mercado externo, puxando os valores da saca para cima.

Conforme a Federraroz a expectativa para este ciclo é que a saca de 50kg fique acima dos R$ 100 no estado.