? Meu pai tinha uns tamborzinhos que esquentavam a água, eu colocava a água dentro, puxava para cima, amarrava, aí abria, se molhava, depois fechava. O banho era por etapa ? disse Flávio Schimith.
Tudo começou a mudar no final dos anos 70.
? Foi uma alegria muito grande quando chegou a luz, corremos para todos os quartos ligando a luz e aquilo era uma alegria total, foi muito bom ? lembrou Flávio Schimith.
Duas décadas depois, o produtor recorreu à mesma cooperativa que distribuiu a energia para modernizar a propriedade. O investimento na produção leiteira, com ordenhadeira canalizada, só foi possível porque a Creluz, que agora também gera energia, bancou parte do projeto.
? Aqui é interior, é longe de tudo. Então, sem a força trifásica a gente acabaria desistindo do negócio, fazendo outra coisa e não lidando com a propriedade de vacas leiteiras, que é o meu forte hoje ? observou Flávio Schimith.
A Creluz atende 36 municípios do norte do Rio Grande do Sul. São mais de 22 mil famílias. Pelo menos 1,6 mil recebem descontos nas contas de luz ou até mesmo energia de graça por terem baixa renda comprovada.
O grande diferencial da cooperativa é a preocupação com o meio ambiente em cada uma das seis usinas que foram construídas na região. Tudo foi planejado para que durante as obras, árvores não fossem derrubadas, famílias não fossem deslocadas das propriedades e nem os rios tivessem o curso modificado.
A Creluz seguiu um modelo adotado em países europeus. A construção das pequenas usinas levou em conta o menor impacto ambiental. Os locais viram áreas de preservação, com espaço para lazer dos moradores. Resíduos como galhos e folhas de árvores são recolhidos e levados para o horto florestal.
As usinas também têm uma escada para os peixes. Ela é usada na época da piracema, para que o bloqueio feito pela barragem não atrapalhe a reprodução dos animais.
? Mesmo na época em que foi construída essa usina, não tendo toda a exigência desta escada de peixe, a cooperativa fez a escada, que serve para o fluxo normal de peixes na época de piracema poder subir rio acima para fazer a desova ? disse Joviano Perotti, funcionário do departamento de comunicação da Creluz.
A responsabilidade com o meio ambiente levou a cooperativa a ser premiada por uma entidade internacional que identifica programas inovadores de energia sustentável.
? Isso fez com que nós no ano passado, em 1º de julho, chegássemos em Londres, sendo a única empresa brasileira, única cooperativa e única hidrelétrica na área de energias renováveis que ganhou prêmio, em uma noite de gala no palácio imperial, por ter economizado sete mil toneladas de carbono por ano, por fazer energia limpa, não tirar famílias do local, baratear o preço para o consumidor, repor mudas, canteiros de ervas medicinais e fazer todo um trabalho educacional ao redor dos complexos ? falou Elemar Battisti, presidente da Creluz.
Mas talvez o maior prêmio seja o reconhecimento de quem vive na região, como o produtor rural Rudinei Guth. A família dele mudou de vida com a ajuda que recebeu da cooperativa. O projeto de instalar a rede elétrica na propriedade custou R$ 27 mil e foi todo custeado pela Creluz. Um passo decisivo para Rudinei abandonar a cidade onde viveu por oito anos.
? Me trouxe de volta para o campo realmente, porque sem a energia, acho que não tem condições de o homem viver no campo. Hoje não é mais trabalho braçal, hoje temos que lidar bastante com a cabeça, e a tecnologia está muito avançada. Tem que acompanhar a tecnologia, porque se você não acompanhar a tecnologia, você vai ficar para trás ? disse Rudinei Guth.