Minifábricas de castanha dão novas perspectivas a produtores do Rio Grande do Norte

Projeto beneficiou mais de 80 famílias do município de Sítio Córrego (RN)Os jovens Bibiano e Tássio, com 21 e 22 anos, são amigos de infância e agora também são parceiros no trabalho. Eles dominam todo o processo de beneficiamento da castanha de caju, mas se destacam pela precisão e corte das amêndoas. Juntos, faturam cerca de R$ 400 reais por mês. Os dois são uma das faces visíveis de um projeto que está mudando a vida de mais de 80 famílias de Sítio Córrego, município de Apodi, no Rio Grande do Norte.  Parte da produção da comunidade foi levada para a V Feira Nacio

? Estamos ensacando o produto na frente dos compradores. Acho que ficam mais gostosas assim e ninguém reclama por esperar na fila ? brinca.
 
Mudança de mentalidade
? A castanha de caju, que hoje representa uma opção viável de negócio para a comunidade do município do Rio Grande do Norte, era praticamente vendida a preço simbólico para os atravessadores. Os mais velhos não acreditavam na possibilidade de mudança e os olhos dos mais novos brilhavam quando falávamos das oportunidades ? relembra o gestor de Revitalização das Minifábricas de Castanha de Caju, Lecy Gadelha, do Sebrae (RN). Em parceria com a Companhia Brasileira de Abastecimento (Conab), a Instituição garantiu os primeiros e decisivos passos para a consolidação da proposta, com capacitação e recursos financeiros.
 
Em Apodi, Bibiano, articulado e desenvolto, assume o papel de guia e detalha com orgulho todas as etapas do trabalho na minifábrica: da seleção à secagem, do cozimento à embalagem. Na descrição dos processos e equipamentos, ele conta a história da associação dos produtores locais, criada há cinco anos quando jovens e mulheres foram escolhidos como alvos preferenciais de um projeto que dependia do engajamento do grupo.
 
? Ninguém tinha idéia da importância das técnicas de poda ou manuseio. As castanhas eram simplesmente apanhadas e vendidas por qualquer preço. Ainda é difícil vencer os atravessadores, mas não trabalhamos mais sozinhos ? desabafa o presidente da associação, Reginaldo Câmara.
 
Com a Coopapi, os produtores demonstraram a força desta parceria. Com oferta abundante, eles estavam sendo assediados pelos atravessadores para vender a castanha por cerca de R$ 0,50 centavos o quilo. A cooperativa bancou a compra do quilo por R$ 1,10 centavos, regulando o preço e garantindo o sustento de quem vive da atividade.
 
? Por falta de informação, nossos pais ignoravam até o valor nutricional da castanha. Nós tivemos a sorte de aprender mais e estamos aproveitando ? conta Fátima Torres, que confia na transformação do lugar em um pólo produtor de referência.
 
Os indicadores justificam o otimismo. Oito comunidades já têm sua própria miniusina e a atividade atrai cada vez mais interessados em capacitação. Um contrato expressivo está sendo negociado com uma grande cadeia de supermercados norte-americana que atua em Natal, capital do estado; e, na mira deles, também está o processo de certificação para exportar.
 
Os produtores já experimentam outras mudanças concretas. A rádio local, montada com recursos próprios, une as comunidades.

? Levamos lazer e informação ? ressalta Clébson Lima, responsável pela programação. O sucesso do projeto também chamou a atenção da Fundação Banco do Brasil que doou oito computadores.

? Mais de 100 crianças estão na fila de espera para começar o aprendizado em dezembro e ansiosas com a expectativa de, em breve, terem acesso à banda larga ? comemora o coordenador, Caubi Torres.
 
Para Bibiano e Tássio, que não viam muitas opções de trabalho, a castanha de caju é encarada como uma perspectiva real de crescimento.

? Antes, só ajudava meu pai no cercado ou cortava folhas de carnaúba. Muitas vezes, não ganhava mais que R$ 2 reais por dia. Aqui, temos futuro ? avalia Tássio da Silva.

? Todo mundo lucra porque a gestão é transparente. E, R$ 400 reais pode até ser pouco em outro lugar, mas para a gente vale muito porque ninguém mais precisa procurar trabalho fora daqui. A nossa castanha tem boa fama ? confirma Bibiano Rebouças Júnior.