O relatório Farra do Boi na Amazônia conclui que o governo brasileiro, apesar de responsável por zelar pela preservação da floresta, também colabora para a destruição ao conceder financiamentos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para empresas do setor de carnes.
? No momento em que a empresa investe na região amazônica e monta uma unidade que tem capacidade de abate de milhares de animais por dia, ela está sinalizando para os produtores que eles podem desmatar e ampliar sua produção porque vão comprar esses animais ? disse André Muggiati, um dos coordenadores do Greenpeace.
Já o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, afirmou que a acusação do Greenpeace não é verdadeira.
? Quero que o Greenpeace reconheça que o BNDES só apóia projetos que têm total compromisso com o desenvolvimento ? afirmou ele, após participar da cerimônia de abertura da 25a Feira Internacional da Indústria Elétrica Energia e Automação FIEE.
Coutinho informou que ainda não conhece o estudo do Greenpeace e precisa analisar o relatório, mas considera a avaliação injusta porque o BNDES tem controle dos grandes projetos e mantém esse compromisso.
Segundo Muggiatti, três frigoríficos que contribuem para o desmatamento na Amazônia são o Bertin, JBS e Marfrig. O relatório aponta que essas três empresas são responsáveis por 50% das exportações das carnes brasileiras e receberam a maior parte dos US$ 2,65 bilhões financeiros pelo BNDES, entre 2007 e 2009, para cinco grandes frigoríficos.
O Bertin é uma das maiores vendedoras de couro do mundo. O JBS lidera as vendas mundiais de carne mundial. O Marfrig ocupa a quarta posição no ranking de comercialização de carne no mundo.
O relatório do Greenpeace diz ainda que a expansão da pecuária está concentrada na Amazônia, onde 80% de todas as áreas desmatadas são ocupadas pela atividade. O relatório descreve ainda os produtos que foram investigados pelo Greenpeace, como calçados chineses e estofamentos de veículos.
Mugiatti afirmou que o objetivo é chegar ao desmatamento zero até 2015 e, para isso, o Greenpeace pressionará as empresas para que elas assumam esse compromisso.
? Se as empresa negociarem, concordarem e adotarem posturas sérias para limpar sua linha de suprimentos e sua cadeia de custódia, a negociação será suficiente. Senão vamos ter que usar mais mecanismos de pressão, como a exposição desse escândalo no mundo todo ? ameaçou o coordenador.
O diretor da campanha da Amazônia do Greenpeace, Paulo Adário, explicou que a entidade já entrou em contato com empresas no exterior perguntando se elas comercializam produtos vindos da destruição da Amazônia. Segundo ele, boa parte delas disse desconhecer que compram produtos vindos da Amazônia.
? Elas compram produtos vindos de outras partes do mundo, sem saber que esses países já importaram do Brasil, dessas empresas que estão na Amazônia. O que fizemos foi contatar as empresas para que procurem os seus fornecedores ? explicou o executivo.
Adário reforçou que o papel do Greenpeace é alertar as empresas, os consumidores, a população, a opinião pública e os governos a agir.
? Esperamos que essas denúncias sejam suficientes para chamar essas empresas para uma atuação responsável, porque elas correm o risco de perder competitividade. A pressão virá inicialmente das empresas consumidoras de produtos brasileiros ? completou o diretor da campanha.