Uma comitiva do Rio Grande do Sul esteve em Brasília nesta quinta-feira, dia 11, para negociar ajuda aos produtores de arroz prejudicados pelas fortes chuvas do fim do ano passado. A principal reivindicação é a abertura de uma linha de crédito especial para os agricultores que tiveram perdas e estão descobertos.
Apesar de reforçar a pressão junto ao governo federal, o setor admite que o pedido pode esbarrar no ajuste fiscal. “O Ministério da Agricultura é solidário à nossa proposta, mas fatalmente dependerá de uma mobilização política importante porque as restrições de orçamento estão se impondo a todas as áreas”, afirmou o presidente da Federação das Associações de Arrozeiros do Estado do Rio Grande do Sul (Federarroz-RS), Henrique Dornelles.
Pela manhã, a delegação gaúcha apresentou números aos técnicos do ministério. De acordo com dados do Instituto Rio-Grandense do Arroz (Irga), os alagamentos atingiram 14% da área total cultivada no estado, de cerca de 1 milhão de hectares. Mais de 2 mil lavouras foram castigadas, basicamente na Fronteira Oeste e na Região Central. Além disso, em 3,6% da área, ou 39 mil hectares, houve perdas consolidadas.
Prejuízo
Segundo Dornelles, os problemas resultaram em até 700 mil toneladas perdidas, o que representa um prejuízo de R$ 500 milhões. Ele esclarece que a linha de crédito pleiteada não precisaria chegar a este valor, já que atenderia somente os produtores que estão “totalmente desamparados”.
São aqueles que não se enquadram no Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), não poderão buscar o alongamento normal de suas dívidas previsto no Manual do Crédito Rural (MCR) e tampouco têm seguro rural contratado.
“Ainda estamos mapeando para saber exatamente quantos produtores de fato precisariam da linha de crédito”, disse. Ele defende que o prazo de pagamento seja de 8 a 10 anos.
Colheita
Os integrantes da comitiva querem continuar a negociação no fim deste mês, quando esperam receber no Rio Grande do Sul o secretário de Política Agrícola, André Nassar, ou a própria ministra da Agricultura, Kátia Abreu, na abertura oficial da colheita do arroz, que ocorrerá na cidade de Alegrete entre 18 e 20 de fevereiro.
“Queremos que eles estejam na abertura da colheita, mas não esperamos uma resposta sobre a linha de crédito na ocasião. Sabemos que vai demorar, que depende do Planejamento e da Fazenda”, disse Dornelles.
O secretário da Agricultura do Rio Grande do Sul, Ernani Polo, que integrou a delegação gaúcha que esteve em Brasília, disse que nos próximos dias será formulado um documento oficial com as reivindicações do setor, para entregar preferencialmente à ministra Kátia Abreu na abertura da colheita.
Recursos
Por enquanto, a percepção é de que o governo reconhece a importância de evitar uma queda na área plantada no Rio Grande do Sul – que é o maior produtor nacional do cereal –, mas que a atual situação vivida pelo Brasil pode ser um empecilho para se chegar a um acordo. O Banco do Brasil seria provavelmente o agente financeiro responsável por operar a linha de crédito, mas os recursos teriam de sair do Tesouro.
“O governo tem justificativa para fazer esse investimento na produção. O arroz está mais caro fora do Brasil do que aqui”, disse Dornelles, argumentando que não convém diminuir ainda mais a oferta nacional. “Mas, por mais nobre que seja a nossa batalha (pela linha de crédito especial), ela é difícil de ser vencida.”
O setor está optando por concentrar forças nesta demanda específica. Está satisfeito com a liberação de R$ 10 bilhões para pré-custeio, dos quais R$ 2 bilhões devem ser absorvidos pelo estado. O mecanismo de incentivo à comercialização da safra também está assegurado.
“Nem tocamos nesse assunto porque está rodando muito bem, obrigado. Os bancos estão procurando os seus clientes e oferecendo, e está inclusive repercutindo positivamente no mercado”, destacou Dornelles.