Os agricultores Guilherme e Mariza Kuhn decidiram trocar o plantio de fumo pela agricultura ecológica. A mudança começou há menos de cinco anos e eles já têm uma certeza:
? A vantagem é muito grande. A primeira é a saúde. A gente não precisa trabalhar com herbicida, nem com adubo. O custo é bem mais barato para plantar. Então começam as vantagens grandes ? anima-se ele.
A maior delas talvez seja a garantia de mercado. A produção é gerenciada por cooperativas credenciadas ao Programa de Aquisição de Alimentos do governo federal. Através dele, a comida chega às famílias beneficiadas pelo Fome Zero, como explica o coordenador do programa, Ernesto Martinez:
? O Programa de Aquisição de Alimentos dá essa condição para esses agricultores, para esses produtores, através de cooperativas, de planejar a sua produção, planejar o ano todo. É um programa que funciona 12 meses, com renovações. Então isso estimula o planejamento da propriedade. Isso muda a lógica do agricultor a trabalhar o seu planejamento.
O modelo baseado em princípios da agroecologia é seguido por 1,5 mil produtores da região de Pelotas, a 250 quilômetros de Porto Alegre (RS). Eles recebem orientação do Centro de Apoio ao Pequeno Agricultor (Capa), uma ONG ligada à Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil.
? Faz bem para a saúde. Para a gente e para quem a gente passa o produto também. Tenho muito orgulho. O pessoal que compra esses produtos compra saúde, se alimentando de um alimento puro, assim, faz bem para a saúde ? afirma a agricultora Mariza Kuhn.
Mais de cinco mil toneladas de alimentos foram comercializadas pelos agricultores desde o início do projeto. A idéia foi descoberta pela ONU e apontada como uma das melhores práticas mundiais de gestão local.
? É um exemplo de como que tu podes usar o potencial local para alimentar as pessoas ? diz a coordenadora do Capa, Rita Surita, e acrescenta:
? Reúne aí centenas de famílias produzindo e mais milhares de pessoas consumindo. Então, valoriza a produção local, essa é a importância do Fome Zero. Com esse Programa de Aquisição de Alimentos é que se enxerga o que tem de bom no local, na agricultura local e coloca isso na mesa de quem precisa.
Mais de 2,3 mil famílias fazem fila para receber os alimentos, atendidas na periferia de Pelotas. O cadastro foi feito pelos coordenadores dos bairros de acordo com a renda e o risco de segurança alimentar.
? Eu tenho três filhos e, para mim, é muito importante. Eu estou desempregada e meu marido também está, faz um bom tempo ? conta a dona-de-casa Simone Souza Lopes.
A distribuição acontece a cada 15 dias.
? Hoje nós temos aí em torno de seis a sete quilos de alimentos, mas, na safra forte chega a 15, 20 quilos cada sacola ? contabiliza o coordenador do bairro Hugo Reichow.
Repolho, couve, cenoura e batata. Parece pouco para uma família, por duas semanas. Mas é muito para quem não tem nada em casa. O fim de um ciclo que começou lá na lavoura de Guilherme e Mariza Kuhn, e onde todos saem ganhando.