Embora prevejam dificuldades na aprovação, especialistas brasileiros e representantes do agronegócio veem pontos positivos na proposta, um dos primeiros sinais de redução de protecionismo desde que a crise se tornou mais aguda.
? Se for aprovada, pode levar o mercado a projetar redução de oferta e consequente alta de preços, e o Brasil, sendo grande exportador na área do agronegócio, deve ser diretamente beneficiado ? diz José Augusto de Castro, vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB).
Como toda medida deve passar pelo Congresso, a proposta ainda pode ser modificada, alertam os especialistas. Saulo Nogueira, pesquisador do Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais (Icone), lembra que o ex-presidente George W. Bush tentou, sem sucesso, passar propostas semelhantes, mas vê no cenário atual uma oportunidade melhor para convencer os congressistas:
? Em tempos de crise, fica mais fácil mudar políticas tradicionais, que muitos consideram injustas. Só não sou mais otimista porque há muitos republicanos contra a proposta.
Potencialmente, diz Nogueira, o corte de subsídios pode reduzir a exportação de grãos americanos a terceiros mercados nos quais o Brasil compete:
? Aí, é possível prever um aumento de espaço para os produtos brasileiros. Agora, embora o assunto seja delicado nas negociações da Rodada de Doha, a questão dos subsídios já não é um tema tão crítico. Do lado político, é um sinal de que o governo americano está interessado em avançar nas negociações da Organização Mundial do Comércio, evitando criar novas barreiras e derrubando algumas.
Conselheiro de comércio exterior da Federação das Indústrias do Estado (Fiergs), Frederico Behrends considera “muito corajosa” a proposta de Obama:
? Mas hoje ele está com tal disposição e capital político que tem boas chances de aprovar ? avalia.
No plano apresentado ao Congresso, Obama prevê gastos totais de US$ 3,55 trilhões em 2010. Para aplicá-lo, terá um déficit de US$ 1,2 trilhão, resultado das despesas menos as receitas projetadas no período. Na busca de equilíbrio, aumentar em US$ 1 trilhão os impostos e taxas cobrados dos 2,6 milhões de americanos mais ricos, grandes multinacionais, petroleiras, empresas poluidoras e instituições financeiras.