Quilombo dos Alpes luta por mais segurança e contra as drogas na capital do RS

Assassinato de dois líderes em 2008 e o fácil acesso dos jovens aos pontos de tráfico, abalam a comunidadeA formação do quilombo dos Alpes, no topo do morro de mesmo nome, no Bairro Glória, se deu depois que Edwirges Francisca Garcia, juntamente com seu segundo marido, Antonio Ramos, fugiu, provavelmente de uma chácara na zona sul de Porto Alegre (RS), após ele ter quebrado a guampa de um boi. Na época, o acesso ao arraial da Glória dava-se por poucas vias. E com o avanço da ocupação do arraial, a família foi subindo até os altos do morro, onde se localiza atualmente.

Entre as atividades agrícolas que existiam no local, os moradores criavam cabras, praticam extrativismo de brotos de bambu e ervas nativas e desenvolviam atividades de criação de aves e cultivo de pomar e canteiros de ervas medicinais. O morador Gumercindo da Silva conta como era a produção local.

? Antes a gente tinha bastante plantações. Tinha plantação de aipim, milho, batata doce e de cana. Começamos este negócio de hortas com a ajuda da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) ? recorda.

Mas, mesmo com os espaços existentes para produção, os moradores precisaram encontrar outros tipos de renda para sobreviver. Atualmente as lavouras e criações do local se limitam a pequenos espaços.

Com uma das mais belas vistas da capital gaúcha, a comunidade luta contra a especulação imobiliária na região. As 74 famílias do quilombo dos Alpes buscam agora a titulação. Mas, conforme o morador Deivison Soares Ferreira, que faz parte do conselho fiscal da associação, depois do reconhecimento o preconceito aumentou.

? O convívio na comunidade mudou depois que passou a ser área quilombola, só para ter um exemplo, tu vai ao posto de saúde e todo mundo te olha atravessado. Mandam a gente ir buscar nossos direitos ? afirma.

Um fato que marcou a história da comunidade foi o assassinato de dois líderes quilombolas em dezembro de 2008. Joelma da Silva Ellias e Volmir da Silva Ellias foram mortos por um homem que pediu acolhida no local. Segundo Ferreira, o acontecimento fez com que lideranças, que estavam se formando, ficassem com medo de novos homicídios.

? Isto foi muito triste para comunidade, a gente teve um retrocesso muito grande, estávamos avançando, criando novas lideranças. Esse homem veio para cá há muitos anos e falou com a dona Jane, que é a matriarca do quilombo, é a mais antiga. Ele veio pedir um cantinho para morar e ela cedeu, e anos depois ele tira a vida de dois filhos dela ? recorda.

Mesmo com todas as adversidades, a comunidade não desiste da luta pelos seus direitos. Já conquistaram energia elétrica, através do programa Luz Para Todos. Conforme Ferreira o próximo passo é buscar saúde e segurança para os moradores.

? O índice de drogas é muito freqüente na área. E a questão da segurança é muito importante e ainda é pouco assistido. Nossa juventude é pouco assistida e fica bem exposta aos pontos de tráfico ? salienta.

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