O Rio Grande do Sul, maior produtor de arroz do Brasil, responsável por 70% do total, deve plantar a menor safra do grãos dos últimos 11 anos.
De acordo com dados do Instituto Rio-Grandense do Arroz (Irga), na safra 21/22, foram plantados 946 mil hectares de arroz, a menor área em 11 anos.
A produção, por outro lado, foi a quarta maior neste mesmo período, alcançando 8,5 milhões de toneladas e média de 180 sacas por hectare ou 9 kg/ha.
Já a área de soja plantada pelos arrozeiros em rotação foi de 372 mil hectares, a maior área da história.
Para a safra 22/23, que começa a ser semeada no próximo mês, a Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz) projeta uma queda de área para o arroz em 11%, o que deve representar pelo menos 100 mil hectares a menos.
Já na soja a semeadura deve chegar a 500 mil hectares.
“Os custos estão altos e a rentabilidade é baixa em relação à soja. O custo de implantação por hectare de soja é a metade do valor do hectare de implantação do arroz. A entrada da soja no sistema permite ao produtor alocar custos, baixando custos de produção. A soja ajuda na fertilidade do solo e isso faz diminuir a incidência de invasoras resistentes, diminuindo o custo e aumenta a produtividade do arroz no ano seguinte. Esse sistema chegou para ficar no estado”, destaca o presidente Alexandre Velho.
O analista da AgroDados Inteligência em Mercados de Arroz, Cleiton Evandro dos Santos, fez um levantamento com produtores de diferentes regiões e portes de lavoura e consultorias agronômicas, aposta em uma redução na casa dos 10%.
“A intenção de plantio ficará mais clara no final de agosto. Mas na pesquisa acreditamos que a área deve ficar entre 888,3 mil hectares a 911,2 mil hectares. Nesse levantamento 65% dos produtores que vão reduzir área de arroz vão apostar na soja e 29% na pecuária”, comenta.
Ainda segundo o especialista há cinco principais motivos para essa retração na área cultivada com arroz:
- 1. Custos exorbitantes (em abril se projetava quase R$ 16 mil por hectare de arroz).
- 2. Rentabilidade muito baixa ou, em alguns períodos do ano, negativa.
- 3. Viabilidade de cultivo alternativo como soja, milho e pastagens (pecuária).
- 4. Terceiro ano de La Niña (as áreas perdidas não voltarão a ser semeadas se não houver garantia de sobra de água).
- 5. Modelo de negociação defasado – sem mercado futuro é maior a insegurança do produtor que aprendeu, com a entrada da soja e do milho nas terras baixas, a operar no mercado futuro.
“Neste momento, com o arroz acima de R$ 75,50 ele apenas empata com o desembolso. Enquanto isso outras culturas como a soja e o milho oferecem até 26% de margem positiva. Estas outras culturas, em especial a soja, têm menor custo e o risco é menor se manejadas dentro do sistema preconizado pela pesquisa e com 20% a 30% da água que consumiria o arroz. Outro fator importante é a liquidez. A soja pode ser vendida o ano todo, o arroz precisa esperar uma faixa de preços que comece a superar o custo de produção e isso demanda armazenagem, o que mais da metade dos produtores não tem”, conclui Santos.