Na padaria, é sempre a mesma choradeira.
? Está sempre aumentando, a gente tem que acostumar com o preço ? lamenta a aposentada Eva Paula de Souza.
? Eu acho que cada vez vai aumentar mais ? reforça Dorothy Callegari.
? Isso que a gente nem repassou o percentual que a gente pagou de aumento. A gente não repassou o aumento total, mas mesmo repassando em partes eu tenho clientes que ainda estão ligando pra cá, tentando negociar e tentando pechinchar e a gente tenta fazer isso também da melhor forma possível, porque a gente não pode perder clientes, né ? afirma a gerente da padaria, Eveline Tomazi Vargas.
Na mesma padaria de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, teve que reajustar os preços em julho e até agora os consumidores reclamam. A quebra da safra da Rússia provocou uma alta nas cotações internacionais do trigo, e o valor da farinha também aumentou.
Os pães e outros produtos subiram, em média 6%, e só não foi mais porque a margem de lucro da empresa foi reduzida em 10%. O analista de mercado Élcio Bento explica que o mundo colheu nesta safra 40 milhões de toneladas a menos e o Brasil depende do grão estrangeiro, é o segundo maior importador mundial. Com a baixa oferta, Bento diz que os produtores daqui devem ser beneficiados, mas precisam esperar o momento certo para vender.
? Neste momento de ingresso de safra, como os preços estão em queda, então sazonalmente falando, temos produto entrando no mercado. Neste momento, os leilões de PEP são a melhor alternativa para comercialização, mas durante a entressafra existe sim espaço para recuperação ? explica o analista.
É o que espera o agricultor Lauro Riedel. Ele plantou 100 hectares de trigo para panificação, na lavoura que fica em Santa Rosa, noroeste do Rio Grande do Sul. Riedel manteve a mesma área cultivada na safra passada, com a esperança de alta dos preços. Mas diz que os valores praticados no sul do Brasil nunca aumentam na mesma proporção das cotações internacionais:
? Há três anos a gente comercializava a R$ 32 a saca. Hoje, a gente está lutando para ver se consegue a R$ 26 a R$ 27 a saca, mas está difícil.
Mas pelo menos, no que diz respeito à produtividade, Lauro Riedel só tem motivos para comemorar. Investiu em tecnologia e colheu 48 sacas por hectare, 25% acima da média no Estado, que já é a maior da história.
De acordo com o levantamento da Emater, a produtividade por hectare no Rio Grande do Sul aumentou em 15%, o que compensou a redução de 10% da área plantada. A safra gaúcha é de cerca de 1,8 milhão de toneladas.
? A gente teve um inverno, assim, bastante rigoroso, que potencializou o desenvolvimento vegetativo da cultura. E na fase de colheita, enchimento de grão e final de colheita, toda numa fase de baixa precipitação. A gente está conferindo nessa safra, em relação à produção, e principalmente em relação à qualidade do grão, que é excepcional ? afirma o engenheiro agrônomo da Emater-RS Célio Colle.
O Brasil deve produzir este ano 5,5 milhões de toneladas de trigo, aumento de 10% em relação à safra passada.