O delegado do Defrec, Adroaldo Schenkel, informa que este tipo de roubo aumentou do segundo semestre do ano passado para cá. Ele explica como funciona o esquema.
– São aliciados agricultores e motoristas. E cargas que são carregadas nesta região e destinadas a Canoas, Rio Grande e outras regiões do Estado, são entregues em outras cerealistas e cooperativas, com o nome de outros agricultores. São faturadas na seqüência e depois enviam para o idealizador do crime, que paga comissões aos motoristas e agricultores envolvidos – informa.
O presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas e Logística do Rio Grande do Sul (Setcergs), José Carlos Silvano, afirma que, mesmo com todo o controle, quadrilhas falsificam documentos de caminhões e motoristas para se infiltrar nas empresas.
– O roubo de cargas é um dos principais problemas que enfrenta o setor de transportes. E o agronegócio é fortemente atingido com o desvio freqüente de cargas de granéis em geral, principalmente soja. Infelizmente temos infiltradas no setor quadrilhas que agem clandestinamente desviando cargas com documentos falsos de caminhões, onde as empresas gerenciadoras de risco fazem uma triagem de motoristas e caminhões, mas com alguma freqüência encontramos caminhão com placa clonada, documentos forjados e motoristas com documentos falsos – ressalta.
Além deste tipo de esquema, outra preocupação é o assalto direto nas estradas. O presidente da Federação dos Caminhoneiros do Estado (Fecam), Éder Dal’Lago, reclama que falta fiscalização nas estradas.
– Quando passamos numa guarita, vemos que as caminhonetes estão todas estacionadas lá. Não vemos nenhuma delas girando. Eles botaram os pardais nas rodovias e abandonaram a segurança. Aí fica muito fácil para um bandido atacar um caminhoneiro, que não pode usar um canivete para descascar uma laranja, e eles atacam com armas de calibre pesado. Aí fica fácil para o bandido atacar o caminhoneiro e levar a carga. A cada dia que passa a situação piora – adverte.
O delegado Adroaldo Schenkel informa que, só na região, já foram feitas cerca de 80 prisões pelo Defrec, contando roubos de carros e drogas. Ele afirma que produtos agropecuários e veterinários são alvos das quadrilhas.
– Tivemos, este ano, uma seqüência visando este tipo de produto. Identificamos uma quadrilha que agia neste ramo e prendemos, agora, no início de agosto, e novamente houve uma calmaria. Então são picos patrocinados por quadrilhas que estão agindo na região e, a partir do momento que são desarticuladas, que tem seus principais integrantes presos, há uma retração muito grande nesse tipo de crime.
Para o setor, ainda faltam dados mais precisos para montar uma estatística oficial dos prejuízos por causa deste tipo de crime. José Carlos Silvano acredita que falta integração do trabalho das polícias.
– Estas estatísticas não são perfeitas porque, principalmente aqui no Rio Grande do Sul, a polícia não age integrada. Nós temos uma delegacia de roubo de cargas em Porto Alegre, mas se o roubo é feito lá em Erechim, caminhão e carga, ele é registrado como roubo de carro. Entra como furto de veículo, não como roubo de carga. A estatística é prejudicada pela falta de integração entre as polícias e pela melhor colocação dos dados na ocorrência.
Além disso, existe a preocupação com a segurança dos caminhoneiros. Éder Dal’Lago ressalta que a Federação já sugeriu leis que impedem o trânsito pela noite, podendo, de dia, os caminhões andarem em comboios.
– Se temos que controlar a hora de volante porque está dando acidentes, que o caminhoneiro pare às 22h até às 6h e que não trafegue caminhões. Aí os caminhões podem andar em comboio durante o dia e, dificilmente, vamos ter roubos de cargas porque teremos bastante caminhões nas rodovias.
Segundo estimativas da Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística, o roubo de cargas custou ao Brasil, no ano de 2009, quase R$ 1 bilhão. Mas especialistas alertam que, pelo fato nem todos os crimes serem computados, os números podem ser ainda maiores.