O que poucos imaginavam é que uma simples exigência acadêmica pudesse ocasionar a geração de empregos e renda e, inclusive, reconhecimento nacional às artesãs catarinenses do projeto Tranças da Terra.
Contam os descendentes que as nonas (avós) atravessavam as madrugadas acordadas tramando a palha do trigo que não seria mais usada na lavoura.
Das tranças saiam produtos para o adorno da casa, como flores e luminárias, e utensílios para a lavoura, como chapéus e bolsas.
Em muitas famílias, o hábito foi passado de geração em geração. Mas a atualidade trouxe aos trigais as máquinas colheitadeiras, que ameaçariam a permanência do costume.
Material é produzido sem uso de agrotóxico
? O trançado de trigo exige que a palha esteja inteira e em boas condições. A seifadeira quebra o produto. Por isso que os agricultores plantam e colhem o trigo manualmente ? explica Sueli Bernardi, gestora regional do Sebrae, uma das 15 entidades que apoiam o projeto.
O Tranças da Terra é uma iniciativa ecológica. Os 11 agricultores organizados em dois núcleos, em Ouro e Água Doce, produzem o trigo sem o uso de agrotóxicos e máquinas. Eles colhem o trigo, da espécie popularizada como “peladinho” (sem as barbichas da planta) e então limpam a palha. Depois, o produto é estocado em um depósito arejado para que a palha não seja atacada pelo mofo.
Conforme a necessidade, o material é repassado às 44 artesãs das seis cidades compreendidas pela Associação dos Municípios do Meio-Oeste (Ammoc). O projeto gera 60 empregos diretos e 25 indiretos.
Todos os envolvidos foram capacitados em cursos técnicos e receberam também noções sobre gestão e administração de empresas.
O produtor de trigo Luiz Pelicolli, de Água Doce, foi um dos que aperfeiçoou a técnica. A família participa da limpeza do material.
? A gente aprende muita coisa na vivência da prática, mas as aulas me deram novas lições. Eu passei a minha vida vendo a minha mãe fazer serão tramando o trigo e agora posso continuar a preservação deste belo costume italiano ? conta o produtor.