Artigo: Capim-amargoso, descontrole biótico ou abiótico?

Devido à ocupação de fazendas por indígenas em Mato Grosso do Sul, observamos que não há controle da planta, criando-se focos enormes de disseminação

*Áureo Lantmann

A cultura de soja, da germinação à colheita, é submetida a contínuos e variados estresses de natureza biótica e abiótica, de diferentes intensidades. Um desses estresses, de natureza biótica, é a concorrência que a soja tem que enfrentar contra a presença de plantas daninhas.

As plantas daninhas constituem grande problema para a cultura da soja. Conforme a espécie, a densidade e a distribuição da invasora na lavoura, as perdas são significativas. Estas invasoras prejudicam a cultura, porque compete pela luz solar, pela água e pelos nutrientes, podendo, a depender do nível de infestação e de espécie, dificultar a operação de colheita e comprometer a qualidade do grão.

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Uma espécie de planta daninha de difícil controle é o capim-amargoso, descrito na literatura como uma planta daninha nativa de regiões tropicais e subtropicais do continente americano. No Brasil, essa planta pode ser encontrada praticamente em todas as regiões, tanto em áreas agrícolas, onde se tem os cultivos anuais e perenes, quanto em áreas não-agrícolas, como em terrenos baldios e áreas adjacentes a rodovias.

Essa planta daninha é uma gramínea perene, ereta, que apresenta caule subterrâneo do tipo rizoma e colmos aéreos cilíndricos e caniculados atingindo a altura de até um metro e meio. Durante seu crescimento e desenvolvimento, forma touceiras e pode se propagar vegetativamente pelo rizoma.

Na fase sexuada, as panículas são muito vistosas e apresentam alta produção de sementes que, por serem pilosas, são facilmente transportadas pelo vento e por máquinas agrícolas. Em uma mesma touceira, ocorrem vários fluxos de florescimento, sendo que um fluxo pode produzir em média de 6,5 mil sementes por planta.

Em áreas com quatro a oito plantas por metro quadrado que poderiam render 3,3 kg ha-1 de soja por hectare, a produtividade cai para 1,88 kg ha-1.

Métodos de controle

No mercado, vários herbicidas estão registrados para o controle do capim-amargoso em diversas culturas. São mais de 12 ingredientes ativos distribuídos em pelo menos sete mecanismos de ação diferentes. Para ter sucesso no controle desta planta daninha, além de considerar todas as boas práticas agrícolas, alguns aspectos, como o estádio fenológico da planta e a época de aplicação do herbicida, são muito importantes.

Medidas preventivas

As medidas para prevenir a propagação do capim-amargoso, são as boas práticas agronômicas:

– Fazer manejo de pousio;
– Realizar rotação de cultura;
– Realizar dessecações na fase inicial de desenvolvimento, antes da primeira floração.
– Utilizar as doses corretas dos herbicidas, utilizando mais de um mecanismo de ação.
– Realizar dessecação antecipada ao plantio na dose correta.
– Monitorar as áreas, evitando que as plantas não controladas produzam sementes;
– Manter sempre boa cobertura do solo nas áreas de plantio direto, visando supressão da germinação de plantas daninhas;
– Utilizar herbicidas com ação residual.

Descontrole

O capim-amargoso precisa ser controlado com medidas preventivas. Caso contrário, com a distribuição de sementes, em torno de 6500 por planta, esse problema pode inviabilizar a cultura da soja.

Em algumas regiões do Mato Grosso do Sul, devido à apropriação de fazendas por indígenas, observamos dentre outros problemas, uma muito grave, como não há nem uma atividade agrícola também não há controle do capim-amargoso, criando-se focos enormes de disseminação, podendo espalhar sementes por quilômetros de distância.

Questão final: o descontrole do capim-amargoso em áreas tomadas por indígenas é de caráter biótico ou abiótico?

*Áureo Lantmann é engenheiro agrônomo, foi pesquisador da Embrapa Soja e é consultor técnico do Soja Brasil desde a primeira edição, safra 2012/2013

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