Podemos afirmar que o estresse promovido por falta de umidade durante os estádios R3 a R5 produz um dano decisivo ao rendimento final
Áureo Lantmann*
O mês de dezembro foi sendo um período de grande preocupação para agricultores, técnicos, pesquisadores e de todo o universo de pessoas que de alguma forma se envolvem com a cultura da soja. Alguns estádios de desenvolvimento da soja são decisivos na definição dos rendimentos da cultura.
Nesta época, a maioria das lavouras de soja, nos estados de Mato Grosso, Paraná e Mato Grosso do Sul se encontram nos estádios reprodutivos R3, R4 ou R5. E condições estressantes, como temperatura alta ou deficiência de umidade, reduzem o rendimento para o agricultor. As reduções em um dos componentes de produção da planta podem ser compensadas por outro componente. Assim, as produções não são alteradas significativamente.
• Leia o artigo anterior: Panorama da safra em Mato Grosso
O componente do rendimento da planta que será reduzido ou aumentado depende do estádio reprodutivo em que a soja se encontra quando ocorre o estresse.
Conforme a planta de soja se desenvolve do estádio R1 ao R5, diminui a sua habilidade para compensar as perdas decorrentes de uma condição de estresse, o que aumenta assim o potencial de redução da produtividade.
Aproximadamente 60% a 75% de todas as flores de soja produzidas abortam e, portanto, não contribuem para a produção. Cerca da metade desse aborto ocorre antes das flores se desenvolverem em vagens jovens e a outra metade é devido ao aborto da vagem. A produção excedente de flores e vagens e o longo período de florescimento (de R1 até R5) é desejável, pois permite certo grau de escape a pequenos períodos de estresse.
As condições de estresse (que causam altas taxas de aborto) de R1 a R3 geralmente não reduzem muito o rendimento porque, para compensar, algumas flores ainda podem ser produzidas até o estádio R5. Além disso, o estresse nesses estádios pode resultar em um aumento no numero de sementes por vagem e no peso por semente, que também ajuda a compensar o abortamento das flores e das vagens, porém a que se ter umidade suficiente.
O estádio R4 marca o início do período mais crítico de desenvolvimento da planta quanto à determinação do rendimento em grãos. Estresse (umidade, luz, deficiências nutricionais, geada, acamamento ou desfolha) ocorrendo a qualquer momento entre os períodos de R4 até após o R6 reduzirá mais a produção do que a ocorrência do mesmo estresse em qualquer outro período de desenvolvimento. O período de R4 é muito critico porque o florescimento completa-se e não pode ser compensado, uma vez que as vagens e grãos novos são mais propensos a abortar sob estresse que as vagens e grãos mais velhos.
O estádio R5 é caracterizado pelo rápido crescimento ou início do enchimento dos grãos e redistribuição das matérias secas e nutrientes das partes vegetativas para os grãos em formação. No estádio R5 demanda por água e nutrientes á alta ao longo do período de enchimento dos grãos. Se ocorrer forte deficiência hídrica nesse estádio o rendimento pode ser reduzido em 75%.
Durante todo esse período, os grãos adquirem aproximadamente metade do seu N, P e K através da redistribuição pelas partes vegetativas das plantas. Reduções de rendimento nesse estádio acontecem, principalmente devido ao menor número de vagens formadas por planta e ao menor numero de grãos por vagens e, em menor grau devido ao menor peso por grãos.
Por fim, podemos afirmar que o estresse promovido por falta de umidade durante os estádios R3 a R5 produz um dano decisivo ao rendimento final da cultura da soja, uma vez que a planta não teria mais chance de compensação através de seus componentes de produção.
*Áureo Lantmann é engenheiro agrônomo, foi pesquisador da Embrapa Soja e é consultor técnico do Soja Brasil desde a primeira edição, safra 2012/2013