Alguns procedimentos tomados pelo agricultor no período vegetativo da soja têm consequências danosas no período reprodutivo
*Áureo Lantmann
Nas duas edições da expedição do Projeto soja Brasil, safras 2012/2013 2013/2014, em varias localidades do Brasil, pudemos observar a presença da lagarta falsa-medideira (Pseudoplusia includens), no estádio reprodutivo, caracterizada como praga secundária na cultura da soja, mas que nas ultimas safras promoveu perdas significativas.
• Leia o artigo anterior: A presença dos nematoides nas lavouras de soja
Como nos últimos anos, esta praga ocorreu de forma surpreendente, inesperada, as perdas de área foliar chegaram a índices de até 32%, o que deve afetar muito os rendimentos da soja. É importante, daqui para frente que o agricultor esteja atento, para a ocorrência desta praga, além da observação nos estádios vegetativos, que seria o mais comum, agora nos estádios reprodutivos.
Por que a ocorrência exagerada, de Pseudoplusia includens no período reprodutivo da soja nas ultimas safras?
No passado, as populações da lagarta falsa-medideira eram controladas naturalmente por uma gama enorme de inimigos naturais, representada principalmente por parasitoides, como as vespinhas (Copidosoma sp) e, especialmente, por doenças fúngicas como a doença branca (Nomuraea rileyi) e doença marrom (Pandora sp. e Zoophthora sp). É possível se afirmar que a aplicação exagerada de inseticidas sem critério técnico, no inicio do desenvolvimento da soja, não obedecendo aos níveis de dano indicados no manejo integrado de pragas, além do uso de fungicidas não seletivos para o controle da ferrugem asiática da soja, afetaram negativamente as populações desses inimigos naturais e, consequentemente, aumentaram os problemas com a lagarta falsa-medideira. Aliado a isso, nas ultimas safras têm sido observado veranicos e altas temperaturas, principalmente a partir do final de dezembro e janeiro que são também extremamente favoráveis para a ocorrência da explosão populacional da praga.
É importante realizar o monitoramento das pragas com o auxílio do pano-de-batida e aplicar o inseticida apenas quando for necessário (30% de desfolha no vegetativo ou 15% de desfolha no reprodutivo). Além da aplicação no momento certo é importante escolher um produto registrado para a lagarta alvo do controle.
Deve-se levar em consideração alguns critérios que interferem na eficiência do controle como:
– A praga tem hábito diferente da lagarta-da-soja. Ela é mais tolerante aos inseticidas e para o seu controle necessita de doses duas até quatro vezes maiores. Alimenta-se de folhas da parte mediana da planta no período reprodutivo da soja. Dessa forma, fica “protegida” pelo dossel da planta que nessa fase da cultura está fechado, dificultando o contato do inseticida com a praga (“efeito guarda-chuva”). Isso ainda é agravado com a utilização de um baixo volume de calda/ha, ainda mais quando o inseticida é aplicado de avião.
– Temperaturas elevadas, acima de 30º, e a umidade abaixo de 60%, aumentam a evaporação, dificultando o controle. Assim, nessas condições climáticas extremas, sugere-se controlar as lagartas durante a madrugada, quando as temperaturas são relativamente mais baixas e a umidade mais alta além da ausência de ventos que proporcionarão melhores condições para aplicação.
Sendo assim, a lagarta falsa-medideira é uma praga importante na soja, mas que com a adoção do manejo integrado de pragas, realizando monitoramento, respeitando os níveis de ação e usando uma boa tecnologia de aplicação dos inseticidas, ela pode ser mantida em baixas populações sem prejuízos ao agricultor ou ao meio ambiente.
Informações da equipe de entomologia da Embrapa Soja:
Adeney de Freitas Bueno, Beatriz S. Corrêa-Ferreira, Clara Beatriz Hoffmann-Campo, Daniel Ricardo Sosa-Gomes, Edson Hirose e Samuel Roggia.
*Áureo Lantmann é engenheiro agrônomo, foi pesquisador da Embrapa Soja e é consultor técnico do Soja Brasil desde a primeira edição, safra 2012/2013