O consultor técnico do Soja Brasil, Áureo Lantmann, comenta suas impressões da safra 2013/2014 e as diferenças da produção da oleaginosa no país
Áureo Lantmann*
A expedição do Projeto Soja Brasil tem como um de seus objetivos observar lavouras de soja em diversas regiões do Brasil e revelar, através da programação do Canal Rural e do site do projeto, as condições, as formas de execução, o conjunto de tecnologias utilizadas, os principais problemas, as principais adversidades e as alternativas de condução. Com isso, agricultores e técnicos teriam uma noção geral de como a soja estaria se desenvolvendo e poderiam tomar como referência as varias situações de lavouras apresentadas.
Durante a expedição do ano safra 2013/14, foram visitadas aproximadamente 142 propriedades com o cultivo de soja. O espaço geográfico foi entre as latitudes 5,0 º sul e 35,0 º sul, revelando grande diversidade de clima, solos, topografia e tempo de cultivo com a leguminosa.
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O nitrogênio é o nutriente requerido em maior quantidade pela cultura da soja. Para produzir uma tonelada de grãos são necessários 80 kg de N. A fixação biológica do nitrogênio, através inoculação com bactérias do gênero Bradyrhizobium, pode, dependendo de sua eficiência fornecer todo o N que a soja necessita e tem um custo muito pequeno. Porém, durante a expedição, verificamos vários agricultores, que nunca se utilizaram desta fonte de N.
A equipe da expedição esteve com agricultores que cultivam soja em solo com 85% de argila, mas também outros que a cultivam em solos com 85% de areia, alguns têm fazendas com mais de 15.000 hectares e novos agricultores nessa safra iniciaram essa atividades com 150 hectares.
A distancia entre as áreas de produção de soja até um porto representa um fator que pode até inviabilizar seu cultivo. Detectamos fazendas que estão á 70 km do porto de Paranaguá, porem registramos localidades produtoras que estão á 2200 km deste porto.
O custo de produção da soja foi sempre uma questão que se colocou para os produtores durante a expedição. Foram relatados custos entre 28 sacas/ha até 48 sacas/ha. A media brasileira de rendimento da soja na safra 2013/14 foi de aproximadamente 50 sacas/ha, se agricultores gastaram 48 sacas/ha, a rentabilidade ficou muito pequena.
Houve lavouras de soja que foram conduzidas com sete aplicações na soma de herbicidas, inseticidas para lagartas e inseticidas para percevejos e fungicidas, mas também aconteceu de lavouras em que foram feitas 18 aplicações.
Observamos lavouras de soja conduzidas em solos com 40 anos de plantio direto sem que, durante os últimos anos, o solo tenha sido arado, gradeado ou escarificado, mas também se verificou soja cultivada em solos recém-incorporados ao processo produtivo com a leguminosa.
Tivemos a oportunidade de conhecer agricultores que há 15 anos cultivam soja no verão e milho safrinha no inverno, num processo de sucessão sem muita sustentabilidade, mas vimos agricultores que praticam um sistema de rotação de culturas, em que a soja é cultivada no máximo três anos num mesmo talhão sendo substituída pelo milho no verão e milheto ou braquiária no inverno, sistema que tem garantido sustentabilidade técnica e econômica.
É neste contexto de contrastes que a soja esta sendo cultivada no Brasil.
*Áureo Lantmann é engenheiro agrônomo, foi pesquisador da Embrapa Soja e é consultor técnico do Soja Brasil desde a primeira edição, safra 2012/2013