A boa utilização do nutriente é fundamental para os sojicultores obterem maior produtividade de grãos; confira o texto do consultor técnico do Soja Brasil, Áureo Lantmann
Artigo: Áureo Lantmann
A maioria dos solos onde se cultiva soja no Brasil, ou aqueles que ainda serão incorporados aos processos produtivos, com cultivo de culturas anuais, têm alguma deficiência de nutrientes ou desequilíbrio entre eles, que impedem as culturas como a soja, o milho e o trigo, de render o abaixo do seu potencial genético.
A produtividade da soja no Brasil teve nos últimos 10 anos um aumento médio de mais de 1200 kg ha-1. Em algumas regiões, os rendimentos médios atingiram 3000 kg ha-1, um grande conjunto de agricultores registrou médias acima de 4400 kg ha-1 e em ensaios de pesquisa são freqüentemente observados rendimentos acima de 5000 kg ha-1 atingindo até 6500 kg ha-1. Nessas maiores produtividades, a soja estaria requerendo melhores condições de fertilidade.
Um dos nutrientes importantes para a soja é o enxofre (S). A principal função do S nas plantas é estrutural, na composição de alguns aminoácidos (cisteina, cistina, metionina,taurina) e, devido a isso, está presente em todas as proteínas vegetais, inclusive enzimáticas e também de forma indireta esta envolvido na formação da clorofila.
Os altos rendimentos de soja observados recentemente foram alcançados com suprimento de S via adubo. Experimentos conduzidos pela Embrapa Soja revelam aumentos da ordem de 100 a 500 kg/ha em resposta à aplicação nos solos de quantidades entre 25 a 75 kg/ha de S.
A análise foliar e a análise do solo, incluindo análise de subsolo, são recomendadas para aqueles solos com suspeita ou já deficientes em enxofre.
A análise química do solo para diagnose da disponibilidade de S para a soja tem-se baseado principalmente na determinação dos teores de sulfato. Para a interpretação correta quanto à disponibilidade de S, amostragens da camada superficial (0 a 20 cm) e subsuperficial (20 a 40 cm) devem ser tomadas em pelo menos 20 subamostras.
Na tabela 01 está representada a interpretação da análise de S para os solos dos estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, Paraná, São Paulo e região do Cerrado.
Tabela 1. Limites para a interpretação de enxofre em análises de solo (extração com Ca (H2PO4)2).
Teor | RS e SC1 | PR2 | SP3 | CERRADO4 |
– – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – mg.dm-3 – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – | ||||
Baixo | ≤ 2,0 | < 5,0 | 0 – 4 | ≤ 4,0 |
Médio | 2,1 – 5,0 | 5,0 – 10,0 | 5 – 10 | 5,0 – 9,0 |
Alto | > 5,0 | > 10,0 | > 10 | ≥ 10,0 |
1 SBCS/Comissão de Química e Fertilidade do Solo, 2004. Camada de 0 a 20 cm.
2 Sfredo, Lantmann & Borkert, 1999. Média dos teores das camadas de 0 a 20cm + 20 a 40 cm.
3 IAC/Boletim 100, 1996. Camada de 0 a 20 cm
4 Souza e Lobato, 2004. Média dos teores das camadas de 0 a 20cm + 20 a 40 cm.
NECESSIDADE DE S PARA SOJA.
Em relação às culturas de trigo e milho, onde se inserem em sistemas de sucessão e rotação, a soja é a mais exigente em relação ao S, requerendo do solo cerca de 8,2 kg de S para cada tonelada produzida, enquanto o milho e o trigo exigem respectivamente, 2,6 kg e 4,3 kg (Tabela 2).
Tabela 2. Quantidades médias de macronutrientes requeridas para a produção de 1.000 kg de grãos.
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Fonte: MALAVOLTA (1980).
Respostas da soja a adubação com enxofre
Na tabela 3, são apresentados os resultados de experimentos conduzidos pela Embrapa Soja, em quatro localidades do Brasil, durante quatro ou cinco anos com objetivos de verificar a resposta da soja a aplicação de enxofre. Em todos os anos e em todas as localidades, foram observadas respostas positivas a adubação com enxofre, com acréscimos de até 500 kg ha-1 (Sfredo e Kepler, 2004).
Tabela 3. Produção de grãos de soja (kg/ha), em função de doses de enxofre, aplicadas no 1º ano, em quatro localidades do Brasil e vários anos. Embrapa soja, 2002.
Doses de S |
Sambaíba MA 4 anos |
Rondonópolis MT 3 anos |
Londrina PR 5 anos |
P.Grossa PR 5 anos |
Média |
– – – – – – – – – – – – – – – – – – — – – – – – – – – – – – – – kg/ha – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – | |||||
0 | 3092 b | 2726 d | 3090 c | 2779 bc | 2922 c |
25 | 3225ab | 2842 cd | 3169 bc | 2946a | 3045 b |
50 | 3169ab | 2908 bc | 3350a | 2897ab | 3081ab |
75 | 3220ab | 3269a | 3260ab | 2806abc | 3139a |
100 | 3313a | 3004 b | 3216abc | 2726 c | 3065ab |
C.V. | 3,51% |
Fonte: Sfredo e Klepker, 2004. Tabela não publicada.
CONSIDERAÇÕES
Com a adoção de variedades de soja mais produtivas e de outras tecnologias para o cultivo de soja no Brasil, os solos devem estar em boas condições de fertilidade.
O S é um nutriente fundamental para rendimentos maiores da soja, por ser principalmente um elemento catalisador das principais reações que envolvem o fósforo nas transformações bioquímicas na soja.
A análise dos resultados obtidos recentemente, para verificar resposta da soja ao S e os estudos de ordem nutricional, mostram haver necessidade de adubações com S para assegurar rendimentos competitivos da soja.
A oferta do S nos solos, necessário para o cultivo da soja, pode ser obtida de forma imediata com aplicação do gesso e mantido a sua concentração nos solos com o uso de formulações contendo S.
*Áureo Lantmann é engenheiro agrônomo, foi pesquisador da Embrapa Soja e é consultor técnico do Soja Brasil desde a primeira edição, safra 2012/2013