Assentamentos do Incra em Mato Grosso são alvos de crítica devido a desmatamento

Juntos, as seis áreas ultrapassam os 220 mil hectares de destruiçãoApós a divulgação da lista dos maiores desmatadores da Amazônia, o Programa de Reforma Agrária voltou a ser alvo de críticas, pois seis assentamentos do Incra, em Mato Grosso, apareceram no topo da relação. Juntos, eles somam mais de 220 mil hectares de destruição. No embate entre os Ministérios do Meio Ambiente e do Desenvolvimento Agrário, o consenso parece ter ficado na falta de sustentabilidade dos assentamentos rurais.

Pedro da Silva é o líder do assentamento Bela Vista, em Flores de Goiás. Criado em 1998, o local abriga 4,8 mil hectares, sendo a metade reserva legal. Embora enfrentem problemas para manter a mata intacta, os assentados não exploram a área.

? A área da reserva nós deixamos separada. Entra gado na reserva, porque a gente ainda não tem uma divisa, uma cerca. Inclusive eu fiz um ofício e mandei para o Incra para ver se tem como nos ajudar a colocar a cerca para não entrar na nada na reserva.

No entanto, entidades ligadas aos setor afirmam que nem todos os assentados possuem esta consciência e que o motivo está na falta de estrutura oferecida aos agricultores. A federação de trabalhadores da agricultura familiar apóia o Programa de Reforma Agrária, mas acha que existem falhas na execução dos projetos na hora de colocar em prática a produção de alimentos.

? A questão da necessidade é que é o problema hoje, é a questão dos recursos, da informação, a questão da capacitação, a assistência técnica que às vezes não é aquela que o agricultor tá precisando ? afirma Ezequiel de Castro, coordenador da Fetraf-DF.

Na semana passada, o ministro do Meio Ambiente chegou a criticar o modelo atual de reforma agrária. Embora tenha afirmado ser um adepto do desenvolvimento do programa, Carlos Minc admitiu que falta sustentabilidade nos assentamentos rurais.

José Parente, um dos dirigentes do Fórum Nacional da Reforma Agrária concorda e acha que a solução seria implementar os projetos em áreas de concentração de grandes latifúndios, longe das florestas.

? A falha existe sobretudo em não termos políticas que assegurem a realização de uma verdadeira reforma agrária que deveria ocorrer principalmente nas áreas que se acham absolutamente deformadas ? afirma Parente.

O professor de Agronegócio da Universidade de Brasília (UnB), Sérgio Sauer, afirma que o governo tem dado prioridade em instalar os assentamos nas áreas da Amazônia. No local, há um estoque maior de terras públicas. Para ele, o modelo da reforma agrária não é ruim, mas é preciso pensar no impacto ambiental. Ele só alerta que não se pode encaminhar as discussões a partir de dados como os da lista do Ibama.

? Denunciar ou colocar no topo de uma lista um assentamento que tem 200, 300, 400 famílias como principal desmatador é não considerar justamente a relação entre a quantidade da área que cada família tem a sua disposição e o impacto que isso causa.