A safra 2019/2020 de soja no Brasil está sendo marcada por atrasos no plantio, em comparação com a última safra. Essa situação pode afetar diretamente o potencial produtivo, segundo especialistas do Comitê Estratégico Soja Brasil (Cesb). Problemas como chuvas irregulares, pior adaptação varietal e mais suscetibilidade a pragas e doenças podem ser enfrentados pelos produtores por conta da situação.
Ferrugem no foco
Para o engenheiro agrônomo Ricardo Silveiro Balardin, membro-fundador do Cesb e PhD em Fitopatologia, esses atrasos afetam diretamente o potencial produtivo da soja. Ele destaca a questão da adaptação varietal, que deve ficar prejudicada por conta desse desaceleramento, além das doenças que podem atacar as lavouras.
“Poderá ser observado um aumento na pressão de inóculo (principalmente ferrugem), podendo implicar em um maior número de pulverizações não previstas. Neste caso, é provável que o produtor atrase a primeira aplicação, na tentativa de manter o número de pulverizações no que foi programado/comprado, com evidente comprometimento no resultado final”, afirma.
Até o momento o país já registra 10 casos da doença, sendo 7 somente no Paraná, segundo levantamento do Consórcio Anti-Ferrugem.
Milho afetado
Outro engenheiro agrônomo e membro do Cesb, Daniel Glat, relata que o milho segunda safra também poderá ser prejudicado.
“Ele é extremamente dependente da data de plantio de soja, porque as águas vão acabando em maio e junho. Quanto mais cedo plantar a segunda safra de milho melhor e, quanto mais tarde, pior. Tenho impressão que o potencial de perda no milho segunda safra pode ser até maior que a soja”, conta.
O engenheiro agrônomo, mestre em fertilidade de solo e nutrição de plantas, Breno Araújo concorda que o atraso do plantio da soja irá afetar a janela indicada para o milho segunda safra.
“Plantar milho fora da janela de safrinha talvez não seja a melhor estratégia para construir um ambiente de alta produção. Talvez seja melhor colocar alguma planta de cobertura, corrigir o solo e pensar que a próxima safra pode ser até dez sacas por hectare melhor”, diz.
Produtores sentem os problemas
O produtor do Rio Grande do Sul, Maurício de Bortoli, campeão da última edição do Desafio Cesb de Máxima Produtividade de Soja, relata que houve um atraso de 15 dias no plantio da soja em suas áreas por conta de chuvas irregulares. Assim, ele acabou perdendo a janela ideal na região, que seria entre 20 de outubro e 10 de novembro.
“Começamos a semear os materiais mais rústicos, que servem para diluir o plantio e escoltar colheita, no dia 12 de novembro. Os melhores só semeamos a partir de 15 de novembro. Esse atraso vai resultar em uma queda de potencial produtivo, porque essas genéticas não respondem tanto a atrasos de plantio, acabam crescendo menos, com menos nós produtivos”, declara.
O produtor Pedro Lima, de Minas Gerais e bicampeão do Desafio Cesb, também ficou aguardando as chuvas, mas elas não vieram na data mais indicada para o início de seu plantio, que seria entre 15 de outubro e 15 de novembro.
“Veio um pouco de chuva e plantamos. Mas como a chuva foi sumindo, tivemos que parar. E o peso da data de plantio é enorme para a questão da produtividade”, afirma.