Tema foi discutido durante VII Congresso Brasileiro de Soja, área plantada da safrinha deve aumentar 10% este ano e cresce a preocupação com a ferrugem
Luciano Teixeira | Florianópolis (SC)
A soja segunda safra deve aumentar em 10% neste ciclo, de acordo com especialistas ouvidos pelo Canal Rural, durante o VII Congresso Brasileiro de Soja (CBSoja). Um dos motivos para esse crescimento é o bom resultado desse cultivo nos últimos anos. Só que o cultivo da safrinha não é apoiado pela pesquisa, isso porque a falta de rotação de culturas contribui para incidência e resistência de algumas doenças da soja, como a ferrugem asiática.
A área plantada da segunda safra de soja deve ultrapassar 680 mil hectares. Um dos estados em que o cultivo tem ganhado a adesão de agricultores é o Paraná, segundo maior produtor de soja do Brasil, com 134 mil hectares cultivados na safrinha, um aumento de 21% em relação ao ano passado, segundo o Departamento de Economia Agrícola do estado (Deral).
– Hoje, a soja tem um retorno econômico maior que o milho, e tem favorecido o cultivo da soja safrinha, mas isso traz também muitas preocupações. Com o aumento intensivo dessa soja, o que acontece é que nós temos uma janela muito longa. A planta fica exposta a diferentes patógenos e vários problemas. Isso pode acarretar um problema maior, porque você vai ter problemas sendo transferidos cada vez mais intensos para os plantios mais tardios – explica o pesquisador da Embrapa Ricardo Abdelmoor.
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Para tentar evitar a prática do plantio de soja sobre soja, começam a surgir leis e portarias específicas para o assunto. Em Mato Grosso, maior produtor nacional da oleaginosa, o vazio sanitário, período sem plantas vivas de soja no campo, aumentou para 120 dias, o que gerou polêmica entre os produtores.
– A gente está vendo isso com muita preocupação, porque hoje a soja é o carro-chefe da economia brasileira. E se a gente perder produtividade, as divisas vão por água abaixo. A grande preocupação é essa. O produtor tem seus investimentos na soja, então para se manter essa longevidade tem que usar todas as metodologias e inovações tecnológicas e tem também a questão da segunda safra – comenta o diretor-técnico da Associações dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT), Nery Ribas.
Outra preocupação é com o crescimento da produção da soja segunda safra em países que fazem fronteira com o Brasil, como a Bolívia e o Paraguai. Isso pode aumentar a chance de contaminação da ferrugem asiática em lavouras brasileiras. Como a doença é transportada pelo ar, o risco a maior.
Um exemplo de inoculo é o Paraguai. Hoje, o país vizinho produz soja safrinha em dois milhões de hectares e não há nenhuma regulamentação por lá sobre esse assunto. A Bolívia também tem aumentando esse tipo de produção. De acordo com a pesquisadora Cláudia Godoy, uma das principais especialistas sobre a ferrugem, se o produtor não fizer controle, haverá quebra de produtividade e, inclusive, a quebra pode aumentar ano após ano.
– A soja é uma cultura bastante dependente do fungicida. Depois que a ferrugem chegou em 2001, virou rotina para os produtores. O que a gente observou desde que a ferrugem entrou é uma redução na eficiência dos produtos. Essa redução é em função da evolução. O fungo está evoluindo, está ocorrendo uma adaptação, a gente já perdeu alguns grupos químicos e não temos novas ferramentas para combate. Nós temos que preservar os fungicidas, porque corremos risco de que daqui alguns anos não existam mais produtos químicos que controlem a ferrugem – orienta Cláudia.
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