Pesquisa detectou crescimento populacional até 10 vezes maior que em 2013. Inseto ainda não provocou estragos. Especialistas pedem monitoramento redobrado para evitar perdas
Rikardy Tooge | São Paulo (SP)
Um estudo do Laboratório de Manejo de Pragas da Universidade Federal Santa Maria (UFSM) constatou o aumento da população de Helicoverpa armigera no Rio Grande do Sul. A pesquisa monitorou 33 municípios e 1306 mariposas da espécie foram encontradas entre novembro e dezembro de 2014. No mesmo período de 2013, o número foi de 250, em 48 municípios monitorados. Na safra 2013/2014, foram detectadas 890 mariposas no Estado.
O levantamento foi realizado por meio de armadilhas para o inseto. Em alguns locais, foram encontradas até 10 vezes mais mariposas que em 2013. Segundo o pesquisador responsável pelo estudo, Jerson Carús Guedes, esse crescimento é um alerta para o produtor. Entretanto, ele afirma que isso ainda não refletiu nas lavouras da região. Guedes orienta que o produtor deve se preparar para a presença de mais lagartas no começo do ano.
– O levantamento é um indicativo da ocorrência de lagartas. Há uma assincronia entre a ocorrência e efeito. As lagartas deverão surgir de 15 a 20 dias depois da ocorrência da mariposa. É muito provável um surto de lagartas em janeiro – alerta.
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O responsável pelo Departamento de Defesa Fitossanitária da UFSM reforça que o momento é de prevenção, já que não há registro de perdas. Ele pede que o produtor faça monitoramento constante da lavoura nos próximos dias, principalmente nas plantas em estágio de reprodução. O pesquisador comenta que o aumento populacional da praga é sério.
– O que notamos é uma distribuição mais uniforme da lagarta. Então o produtor precisa ter mais rigor no monitoramento de lagartas. No estágio reprodutivo, um cuidado maior. Fazer o pano de batida e verificar se há mais de três lagartas por m². Além disso, o produtor deve procurar seu agrônomo – explica o pesquisador.
Os municípios com mais ocorrências de mariposas são: Santa Bárbara (75 mariposas); Giruá (59 mariposas); Coronel Barros (49 mariposas); Ijuí (44 mariposas); Pontão (42 mariposas); Sarandi (37 mariposas); Não-Me-Toque (37 mariposas); Carazinho (35 mariposas); Nova Palma (35 mariposas); e Três de Maio (35 mariposas).
Sob controle
O agrônomo que atende pela Associação dos Produtores de Soja do Estado (Aprosoja-RS), Nédio Giordani, concorda com análise da UFSM. Segundo ele, os produtores já fizeram duas aplicações e caminham para fazer mais uma pulverização de defensivos.
– Esse levantamento demonstrou que o número de mariposas aumentou muito nesse período. Isso é sinal de que teremos lagartas. Em muitas áreas, fizemos duas aplicações para não deixar a lagarta crescer, agora vamos aplicar fungicidas e depois fazer a terceira aplicação para lagartas – comenta.
O técnico pede a emergência fitossanitária no Estado, com o objetivo de garantir mais produtos para o sojicultor e baratear o valor das aplicações. Por outro lado, a lavoura mostra bom desenvolvimento, sem prejuízos até o momento.
– Se controlarmos bem as lagartas e a ferrugem, além de continuar a chuvas, podemos ter de 45 a 50 sacas por hectare. Nós temos a spodoptera, temos a falsa medideira. Além da helicoverpa, podemos ter problemas mais sérios com a falsa medideira. O importante é controlar no início da infestação. Também queremos que seja declarada uma emergência fitossanitária para garantir mais produtos e baratear os custos de aplicações – reforça Giordani.
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Para o presidente da Associação dos Produtores de Soja do Estado (Aprosoja-RS), Décio Teixeira, o produtor já havia notado a presença do inseto antes da implantação da lavoura e já tomou os devidos cuidados, fazendo aplicações no momento adequado. Ele acredita que o alerta dado pela UFSM ajudará ainda mais no controle da helicoverpa.
– O produtor sabe que tem e está se preparando para isso. O aumento chama atenção, mas o produtor já tinha notado isso. Agora, com o embasamento científico, temos certeza. O importante é o monitoramento e que a chuva dê trégua para garantir que o produtor entre na lavoura para verificar – comenta o dirigente.
Clique aqui e veja a entrevista do agrônomo Nédio Giordani ao Rural Notícias.
Monitoramento na soja Bt
O pesquisador da UFSM Jerson Carús Guedes e o consultor técnico do Soja Brasil, Áureo Lantmann, afirmam que os produtores devem ter o mesmo cuidado nas lavouras com tecnologia Bt, que tem resistência à lagarta.
Segundo eles, no estágio reprodutivo – período de desenvolvimento dos grãos –, os insetos deixam de atacar as folhas e buscam se alimentar dos grãos. A supressão de lagartas pode ser menor nesse período desenvolvimento. Portanto o monitoramento e controle também se faz necessário.
Aplicação
A Embrapa Soja recomenda a aplicação de Entomopatógenos e inseticidas reguladores na fase vegetativa a partir de quatro lagartas pequenas por metro ou 30% de desfolha. Para utilizar inseticidas de ação rápida, o recomendado é quando existir quatro lagartas médias/m.
Na fase reprodutiva, o indicado para Entomopatógenos e inseticidas reguladores de crescimento a partir de duas lagartas pequenas/m ou 15% de desfolha. A indicação para uso de inseticidas de ação rápida é a partir de de 2 lagartas médias por metro.