Se consideradas apenas as pessoas que têm rendimento mensal de até dois salários mínimos, esse consumo cai para 15,3 quilos por pessoa em um ano. O consumo per capita da classe média fica próximo ao do consumo nacional, com 29,8 quilos por pessoa em um ano. A classe alta é a grande consumidora: 39,7 quilos por pessoa em um ano, quase 12 quilos por pessoa a mais que a média nacional. Ao contrário de arroz e feijão, o consumo de batata, cenoura, cebola e tomate apresenta relação positiva com a renda ? quanto maior a renda, maior o consumo.
Os responsáveis por esse estudo explicam que algumas hortaliças respondem mais que outras ao aumento da renda. Considerando-se as quatro hortaliças estudadas continuamente pelo Cepea, a aquisição per capita de tomate é a que mais cresce à medida que a renda sobe. Enquanto a classe baixa consumiu em média 3,7 quilos por pessoa de tomate em 2008, as classes média e alta consumiram, respectivamente, 5,2 quilos por pessoa em um ano e 7 quilos por pessoa em um ano.
Já em relação ao consumo de batata, a diferença entre as classes é maior entre a classe baixa e a média. A classe média consome 2 quilos a mais de batata que a classe baixa, por sua vez, a classe alta consome apenas 1 quilo por pessoa em um ano a mais que a classe média ? dados de 2008. A batata in natura está cada vez menos presente nos lares brasileiros, principalmente nos de classe mais alta, uma vez que as opções congeladas (pré-frita, smile, batata com queijo etc.) vêm sendo um meio mais prático e saboroso de se consumir o tubérculo.
A aquisição de cenoura entre as classes de renda segue o mesmo padrão da batata. Já a diferença na aquisição de cebola entre as classes não é grande. A classe baixa consome cerca de 1 quilo por pessoa em um ano a menos que a classe média, e esta consome também 1 quilo por pessoa em um ano a menos que a classe alta.
? O consumo de hortaliças em casa reduziu em todas as classes de renda ? resume a pesquisadora Margarete Boteon.
Ela avalia que a batata é a que está ganhando mais espaço na alimentação fora de casa ou o consumidor já a adquire de forma processada, como a batata pré-congelada ? neste caso, a aquisição não é incluída na categoria hortaliças que só considera o produto fresco e consumido no domicilio. A menor queda de consumo entre 2002 e 2008 ocorreu no tomate, sustentado pelo ligeiro aumento do consumo da classe mais rica.
? O tomate conseguiu agregar valor nas classes de renda mais alta e manter seu espaço nos lares, ofertando um produto diferenciado, como já comentado ? explica a pesquisadora.
Brasileiro com mais renda também consome mais frutas
Em 2008, o brasileiro consumiu 28,86 quilos de frutas em média em casa. A classe baixa teve consumo de 17,3 quilos por pessoa em um ano, 11,5 quilos a menos que a média nacional. Na classe média, o consumo per capita em casa foi de 31,4 quilos naquele ano. A classe alta continua sendo a grande consumidora, com 50,27 quilos por pessoa em um ano, 21 quilos por pessoa a mais que a média brasileira. No grupo de maior renda no país, superior a 15 salários mínimos, o consumo de frutas foi de 59,2 quilos em 2008.
Há uma correlação positiva entre renda e consumo de fruta. As frutas são consideradas caras dentro do grupo dos alimentos, sendo menos consumidas pelas classes mais baixas. Muitas vezes, um quilo de fruta é comparado com outros produtos mais calóricos e que “sustentam mais”, como um quilo de frango, por exemplo.
Conforme os autores desse estudo, a aquisição, em quilos, de banana e laranja se destaca entre outras frutas em todas as classes de renda. No entanto, a diferença em quilos adquiridos entre as classes é grande.
? Isso mostra um cenário promissor em termos de demanda para os dois produtos, já que, em todas as classes de renda, o consumo é grande e tende a aumentar conforme a renda aumenta ? destaca a coordenadora do estudo.
Na classe baixa, além da menor ingestão de frutas nos lares, o consumo se concentra em apenas três: banana, laranja e maçã. Na classe média, destacam-se também essas três frutas, mas ganham representatividade ainda o mamão e a tangerina, cujo consumo é muito pequeno na classe baixa.
Na classe alta, frutas como melão, limão, uva e também mamão passam a ter consumo mais significativo. O consumo per capita do mamão na classe alta em 2008, por exemplo, era 3 quilos por pessoa, superior ao da classe média e 4,5 quilos acima do observado para a classe baixa.
Analisando de forma agregada as três principais faixas de renda ? baixa, média e alta ?, os pesquisadores observam aumento do consumo de frutas em todas as classes entre 2002 e 2008. O incremento total per capita foi maior na classe alta.
? O acesso a informação, a preocupação com a saúde, o marketing da fruta segura e com qualidade de origem são fatores que vêm colaborando para o aumento do consumo de frutas nas classes de maior poder aquisitivo ? comenta Margarete Boteon.
No entanto, em termos relativos, o maior incremento entre 2002 e 2008 ocorreu na classe baixa, impulsionado pelo crescimento da banana, melancia, laranja e maçã. Nos seis anos entre uma pesquisa e outra, a classe média aumentou seu consumo tanto de frutas mais baratas e tradicionais, como maçã e laranja, como de frutas mais caras, como manga, melão e uva.