Para a EFSA, a tese de Séralini, publicada na revista “Food and Chemical Toxicology”, não pode ser cientificamente comprovada, já que a pesquisa foi conduzida de maneira inadequada e não apresentou claramente a metodologia adotada. Desta maneira, apenas com os resultados mostrados, a entidade não considera necessária à reavaliação de segurança – já realizada anteriormente – do milho transgênico, nem a avaliação contínua de glifosato.
Entre os principais pontos destacados no parecer da EFSA entregue à Direção-Geral de Saúde e Proteção do Consumidor da Comissão Europeia estão: a linhagem de ratos utilizada no estudo de Séralini é propensa ao desenvolvimento espontâneo de tumores; o pesquisador não cumpriu os protocolos reconhecidos internacionalmente pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) para a realização deste tipo de pesquisa, entre eles, o número exigido de animais por grupos; os autores não declararam publicamente seus objetivos com a realização do estudo; e também não informaram a composição dos alimentos dados aos animais nos dois anos do experimento, nem divulgaram a metodologia usada nas análises.
Per Bergman, diretor de Avaliação Científica de Produtos Regulamentados da EFSA que liderou a análise, ressaltou no parecer que, para fazer um estudo adequado, é fundamental estruturar uma metodologia. “
– Com objetivos claros e o desenho da metodologia é possível criar uma base sólida e gerar dados precisos e conclusões válidas para uma pesquisa. Sem esses elementos, é improvável que ela seja confiável – disse.
Com a divulgação desses resultados, a EFSA concluiu a primeira etapa de avaliação da tese. O próximo passo será uma segunda avaliação do estudo, com base em relatórios solicitados pela EFSA a pedido da diretora-geral de Saúde e Proteção dos Consumidores da Comissão Europeia, Paola Testori Coggi, ao próprio pesquisador Gilles-Eric Séralini.
Instituto da Alemanha concorda com análise da EFSA
O Instituto Federal de Avaliação de Risco (BfR) da Alemanha também levantou suspeitas contra o artigo de Séralini. Na avaliação do professor e vice-presidente do BfR, Dr. Reiner Witkowski, a conclusão não é convincente, pois o documento apresenta incoerências no desenho, na avaliação estatística, bem como no tipo de apresentação e interpretação dos dados.
De acordo com o instituto, para continuar avaliando os efeitos relatados na pesquisa, seria preciso analisar o relatório completo, além de obter respostas para uma série de questões específicas.
O Instituto Federal de Avaliação de Risco (BfR) é uma entidade científica responsável pela elaboração de relatórios sobre a segurança alimentar humana, animal e de substâncias e produtos, ligada ao Ministério da Alimentação, Agricultura e Defesa do Consumidor da Alemanha.
ANBio aprova posicionamento de entidades europeias
A Associação Nacional de Biossegurança (ANBio), principal entidade brasileira na área de biossegurança, também contestou a credibilidade técnica do estudo francês, que põe em dúvida a segurança de uma das tecnologias de milho transgênico. O cereal geneticamente modificado é consumido por milhares de pessoas em todo mundo há cerca de 10 anos.
– Estudos públicos, relacionados a órgãos do governo europeu, são muito importantes para reforçar oficialmente a segurança da biotecnologia e não deixar que posições ideológicas e pesquisas controversas influenciem de forma negativa a compreensão a respeito de informações científicas idôneas sobre alimentos transgênicos, vacinas e, até mesmo, medicamentos biológicos produzidos pela biotecnologia moderna – afirma a Dra. Leila Oda, pesquisadora e presidente da ANBio.
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