Muito se fala sobre os malefícios que a sucessão de culturas causa ao solo e consequentemente a produtividade da soja. A recuperação dessa degradação causada pelo manejo incorreto é demorada e pode ser cara. Mas já existe uma ajuda biológica, que inclusive ajuda a reduzir custos: a aplicação de bactérias.
A multiplicação dessas bactérias parece mais um experimento de ficção científica, com equipamentos de proteção individual e tanques de mistura. O produtor Valter Kagiama, de Nova Ubiratã, já está acostumado com toda essa parafernália, e sabe que isso tudo traz grandes benefícios. Um deles é a redução de 20% nos gastos das lavouras.
“Hoje em dia o custo do produtor está bem mais elevado do que antigamente? Nossa receita diminui e precisamos buscar ferramentas para reduzir nosso custo. Começamos a usar o biológicos para diminuir o uso de produtos químicos, mas vimos outros benefícios”, conta Kagiama.
A fazenda fica na região do médio norte de Mato Grosso e por lá os custos de produção tem aumentado muito nos últimos anos. E não foi só para o Kagiama. Os produtores vizinhos também perceberam isso.
“Nos últimos anos os custos de manutenção de lavoura aumentaram muito E com a má administração pública que passamos aqui no estado, com o aumento de impostos, essa alternativa biológica é muito importante pra diminuir custos. Sem falar que dá para aumentar a nossa lucratividade e o produtor se manter no mercado de trabalho”, relata o presidente da Aprosoja, Natan Belusso.
Para que os biológicos funcionem no combate, o produtor adaptou uma parte da propriedade para multiplicar os microrganismos. As bactérias são usadas para controle de nematoides e combate a doenças que atacam as folhas das plantas. No solo, também ajudam a fixar nutrientes.
Claro que a limpeza no local, a procedência das bactérias e o acompanhamento de um profissional especializado são extremamente importantes para garantir a eficiência do produto.
“O fato de toda semana estar passando nas fazendas, é muito importante. Sem o pós-venda, o pessoal acaba desistindo, porque gera um pouco de dificuldade”, afirma o engenheiro agrônomo, Aldo Krasnievicz Jr.
Sucessão Soja/Milho
O uso dos biológicos não deve ser pensado individualmente nas culturas, mas sim como um todo. Na fazenda de Kagiama, por exemplo, a soja já foi colhida e está indo embora, entretanto o milho começa a ser colhido. O biológico que foi usado em uma, agora ajudará no ciclo da outra. E não é que até na sucessão soja/milho os biológicos funcionam!
“Quando a gente trabalha com biológicos no final do ciclo da soja, já estamos pensando no controle da lagarta no milho. Da mesma forma que o milho favorece o surgimento de nematoides. Então eu posso trabalhar para o próximo ciclo. Essa época eu tenho uma condição de campo, de umidade e temperatura excelentes. Isso permite trabalhar com grupos de bactérias que disponibilizam nutrientes no solo, principalmente fósforo, boro e enxofre”, diz o diretor da empresa de biológicos, Rafael Neto Moreira Garcia.
O uso de microrganismos na lavoura também ajuda na preservação da mata ciliar e do meio ambiente. Na fazenda de Kagiama, o uso do biológico é útil na prevenção de pragas, mas nem por isso deixou de usar químicos quando necessário. A vantagem é que o produtor conseguiu diminuir a quantidade de doses dos defensivos agrícolas. “Se soubesse, usava antes! Mas como a gente descobre as coisas, vai testando e vendo o que acontece”, afirma.