O acordo da Bayer para encerrar milhares de ações envolvendo o herbicida Roundup está sendo protelado, informaram advogados de demandantes. Em junho, a companhia alemã anunciou um acordo de US$ 10,9 bilhões para encerrar 75% das 125 mil ações que alegam que o glifosato, ingrediente ativo do herbicida, causa câncer.
Antes do anúncio do acordo, a Bayer já tinha sofrido derrotas em três julgamentos envolvendo o herbicida, o que derrubou suas ações. A companhia diz que o glifosato não representa risco cancerígeno. Acordos com dois dos principais advogados de demandantes, Aimee Wagstaff e Jennifer Moore, ainda não foram assinados pela Bayer, disseram os advogados ao juiz Vince Chhabria, durante audiência nesta quinta-feira, 27.
Outro acordo para resolver um grande conjunto de casos foi completamente anulado neste mês, disse o advogado Brent Wisner. Os três advogados representam um número total de aproximadamente 20 mil demandantes, disse Wagstaff.
O juiz Vince Chhabria, que está cuidando de milhares de ações protocoladas em tribunais federais, disse aos advogados que quer ver um plano para a retomada de julgamentos, tendo em vista as incertezas em torno do acordo. Wagstaff disse que já está trabalhando para agendar julgamentos no tribunal estadual de Missouri. “Acho que estou tendo um pouco de dificuldade para conciliar o que eu li no press release da Bayer em junho com os números que vocês estão me dando agora”, disse Chhabria, depois de ouvir que a maioria dos casos em seu tribunal ainda não tiveram um acordo assinado.
William Hoffman, um dos advogados da Bayer, disse que a companhia imaginou em junho que conseguiria finalizar os acordos. “Acho que o que temos aqui é algo que ocorre em muitas negociações: um pequeno obstáculo, uma mudança nas circunstâncias que levaram uma das partes a suspender as coisas temporariamente”, disse. “Então os casos não estão resolvidos, é isso que você está dizendo?”, perguntou o juiz.
Segundo o mediador Kenneth Feinberg, já foram assinados acordos com advogados que representam cerca de 30 mil demandantes. Detalhes das divergências entre os advogados e a Bayer não foram discutidos no tribunal nesta quinta-feira. Chhabria pediu, no entanto, que os advogados tornem públicos trechos de cartas que enviaram a ele em sigilo, e que detalham o que o juiz descreveu como a Bayer “desonrando” seus acordos.
A Bayer disse estar otimista de que conseguirá finalizar os acordos nos próximos 30 dias sem a retomada dos julgamentos. Em julho, a companhia perdeu um recurso apresentado em um tribunal da Califórnia que buscava anular a decisão do primeiro julgamento envolvendo o Roundup. Em agosto de 2018, a Bayer foi condenada a pagar US$ 289,2 milhões ao jardineiro Dewayne Johnson, que alegava que a exposição ao glifosato teria sido responsável por seu linfoma não-Hodgkin. A indenização, porém, foi reduzida para US$ 20,4 milhões.