• Ações de controle incorretas aumentam ataques de bicudo em Mato Grosso
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A praga já é conhecida pelos produtores. No ano passado, ela deu trabalho. Na primeira safra do algodão, foram necessárias quase 15 aplicações de defensivos. Este ano, o produtor rural Silvino Alcides Bortolini mudou a estratégia, cultivou o algodão safrinha e, com isso, diminuiu o ciclo da lavoura. O objetivo era reduzir as aplicações, mas até agora não deu muito certo.
– Nessa safra, nós já estamos com sete aplicações, só por causa do bicudo, e ainda provavelmente vai mais umas três aplicações, esse algodão vai ficar aqui mais uns 25 dias, então teremos que fazer mais umas três aplicações – contabiliza o produtor.
Bortolini cultivou 1200 hectares de algodão safrinha em Jaciara (MT). O excesso de chuva no início da germinação não afetou o desempenho das plantas, que estão quase no ponto da colheita. O agricultor espera uma produtividade alta. Se tudo correr bem, devem ser colhidas, em média, 280 arrobas por hectare.
– Não estamos sendo muito prejudicados, porque nós estamos fazendo bastante aplicações, e está tendo o controle. Mas ele não larga de atacar – relata Bortolini.
O bicudo do algodoeiro é originário do México e chegou ao Brasil no início dos anos 80. De lá para cá, se tornou a principal praga a ameaçar a cultura do algodão, justamente por seu elevado poder destrutivo. Ele é pequeno e na fase adulta não chega a um centímetro de comprimento. Em uma grande infestação, as perdas podem chegar a 60%.
– É uma praga silenciosa, você não a vê, é muito difícil de ver, quando ela ataca, você vê apenas o dano, aí quando você viu já está feito, o prejuízo já está instalado – explica o técnico agrícola Luiz Antônio Uber.
O inseto danifica as flores e também as maças do algodão, mas são os botões florais o esconderijo preferido. A proliferação acontece entre 22 e 27 graus. Ele fura a maçã, deposita o ovo lá dentro e, em média, cinco dias depois um novo inseto sai para furar novamente. O ovo vira a pupa, que vira o bicudo, dando continuidade ao ciclo.
Normalmente, os agricultores precisam fazer várias aplicações de defensivos para combater o bicudo. Nas últimas três safras, por exemplo, na região de Campo Verde (MT) foram feitas, em média, 10 pulverizações só para controlar esta praga. Como a infestação esse ano é maior, a expectativa é que esse número aumente.
A preocupação da Associação Matogrossense de Produtores de Algodão (Ampa) é a elevação dos custos de produção, já que algumas fazendas estão realizando até 25 aplicações.
– Qual o impacto disso? Custo. O problema com o bicudo está fora do orçamento que a gente tem para finalizar a cultura – diz o presidente da Ampa, Milton Carbugio.
Apesar de ser a principal praga do algodão, ainda não foi desenvolvida nenhuma cultivar transgênica resistente ao bicudo. Por isso, a melhor forma de evitar prejuízos é seguir as orientações técnicas.
– Primeiramente fazer uma boa destruição de soqueira, isso é fundamental não deixar restos culturais nas lavouras de jeito nenhum, e após isso fazer um monitoramento usando armadilhas. O monitoramento deve ser feito o ano inteiro na lavoura, não somente quando as pragas já estão instaladas. Às vezes aparece o bicudo mais cedo, ou fora de época, aí tem que se fazer o controle. Vai ter um custo alto? Vai, mas é muito mais barato você ter uma ou duas aplicações mais cedo do que fazer baterias ou aplicações sequenciais, quando o algodão estiver instalado – orienta Uber.
O alerta da Ampa é para a necessidade de cuidados emergenciais, para que seja possível continuar plantando algodão no Estado de Mato Grosso.
– Se a gente descuidar, fica quase incontrolável o bicudo no meio do algodão, ele chega a um ponto que você aplica e não consegue mais controlar a população, aí já fica inviável – fala Carbugio.