Além disso, os governadores da oposição deram um sinal claro de diálogo ao propor a intermediação do Brasil no conflito.
? O Brasil é uma garantia de que isso pode ter uma solução ? definiu o governador de Santa Cruz, Rúben Costas.
Esse recuo da oposição, se confirmado, será o primeiro ato concreto de negociação em três semanas de violentos distúrbios sociais na Bolívia. A proposta de interromper os bloqueios foi feita por Blanco Marcovic, líder máximo da oposição a Morales no país. O oposicionista ainda não detalhou como será feito isso, até porque os militantes dos dois lados radicalizaram posições no fim-de-semana. Mais de 10 pessoas ficaram feridas (uma com morte cerebral) em confrontos entre a União da Juventude Cruceña (oposição) e o Movimento Al Socialismo (MAS, governista). Os conflitos aconteceram a 50 km de Santa Cruz de La Sierra.
Bloqueios feitos pelos dois grupos ideológicos impedem a chegada de bens industrializados à cidade, que é o motor econômico da Bolívia. Marcovic diz que o levante das barricadas será “um sinal de boa vontade” para pacificar o país, antes de reunião entre o presidente Evo Morales e governadores oposicionistas, que estava cogitada para este domingo, mas ainda ano está confirmada. Mesmo com a iniciativa, o dirigente oposicionista não amansou as palavras. Em entrevista, chamou os apoiadores de Morales de “assassinos” e comunistas “a serviço de Hugo Chávez”.
Antes dessa trégua, a Bolívia viveu dois dias de violência. O estado de sítio decretado pelo presidente no departamento de Pando foi rechaçado a bala por moradores daquela região fronteiriça com o Brasil.
Pelo menos um civil morreu e dois foram feridos com tiros ao combater soldados do exército boliviano que avançam pela cidade de Cobija, capital de Pando, para tentar fazer cumprir o estado de sítio. O morto e um ferido são paramilitares de oposição a Morales, que tentam impedir a tomada da cidade.
O departamento de Pando faz fronteira com o Acre. O aeroporto Aníbal Arab, de Cobija, está fechado e tomado por tropas militares. A TV estatal mostrou imagens da tomada do aeroporto pelo exército, na qual um homem foi atingido e morreu em frente às câmeras de TV. O cidadão, que estava numa barricada em protesto contra Morales, não foi atendido a tempo e morreu junto à pista.
Sobrou também para a mídia. Uma repórter de TV, boliviana, foi ferida com um tiro. Um grupo de jornalistas bolivianos e estrangeiros que chegou em Cobija num avião Hércules das Forças Armadas foi impedido de trabalhar e enviado de volta a La Paz.
Foi próximo a Cobija que morreram 30 pessoas em confrontos entre opositores e defensores de Morales, na quinta-feira. Ontem, o governo federal boliviano anunciou que foram encontrados 30 corpos nos rios da região de Porvenir..
O ministro de governo Alfredo Rada anunciou ordem de prisão para o prefeito de Cobija, Leopoldo Fernández, por “desacato”. Fontes governamentais confirmaram ao Diário Catarinense que a detenção se dá porque o prefeito se recusou a obedecer ao estado de sítio. Fernández tem sido qualificado por Rada como “genocida”, e sobre ele pesam as suspeitas de ter usado pistoleiros brasileiros nos combates contra militantes do MAS, partido do presidente.