Nesta segunda-feira (1º), em Ribeirão Preto (SP), o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) participou do primeiro evento público desde que deixou a presidência e viajou para os Estados Unidos, em dezembro do ano passado, a 28ª edição da Agrishow, a maior feira de tecnologia agrícola da América Latina.
Mesmo que a abertura oficial do evento tenha sido cancelada – por causa da polêmica envolvendo o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, e a organização da feira –, o ex-presidente foi tratado, especialmente pelo público, como um ‘chefe de estado’, embora tenha agido como candidato.
Com um forte aparato de segurança, Bolsonaro, que estava acompanhado do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), subiu em máquinas, acenou para apoiadores, atraiu câmeras de celulares e provocou gritos de centenas de pessoas nos corredores da feira. “Mito” e “Volta, Bolsonaro”, foram os mais usados pelos visitantes e funcionários das empresas agrícolas por onde o ex-presidente passava.
Críticas às demarcações de terra
Mesmo sem comandar nenhum orçamento, Bolsonaro, que estava afastado de eventos públicos desde que voltou ao Brasil, em março, falou sobre o setor e atacou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
“Vi recentemente a homologação de meia dúzia de terras indígenas pelo governo atual. Em uma dessas reservas, com 30 mil hectares, existem apenas nove indígenas. Isso não parece justo. Não é aceitável que 230 mil hectares sejam destinados a apenas nove pessoas. Durante meu governo, lidei com essas questões de maneira justa e imparcial. Nunca tive qualquer preconceito contra os povos indígenas, muito pelo contrário”, afirmou o ex-presidente.
Além do governador de São Paulo, o ex-presidente estava acompanhado do ex-ministro do Meio Ambiente, o deputado federal Ricardo Salles (PL-SP) e do ex-ministro da Ciência e Tecnologia, o senador Marcos Pontes (PL-SP).
“A vida continua até o dia que Deus me chamar. Tenho muita coisa para falar para vocês, mas como sou ‘ex’, encerro aqui”, disse.
Embora tenha recepcionado o governador Tarcísio de Freitas, o presidente da Agrishow, Francisco Matturro, não participou da caminhada pela feira e nem da coletiva improvisada na sala de imprensa do evento, em que parte foi transmitida na rádio oficial da feira.
Tarcísio agradece Bolsonaro e foca em invasões
No primeiro discurso na Agrishow como governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, agradeceu o ex-presidente pela presença e afirmou que não vai tolerar invasões de terras no estado. Repetindo o que falou durante a ExpoZebu, no fim de semana, o novo governador disse que os invasores irão para a cadeia.
Seguindo a antiga política do padrinho político, Tarcísio de Freitas entregou títulos de regularização fundiária a produtores rurais.
“Nós, em São Paulo, valorizamos o agronegócio. Temos apreço e orgulho pelo agronegócio paulista. O setor é o diferencial de nossa economia e segue fazendo a diferença”, destacou.
No discurso, o governador também anunciou uma nova linha de financiamento que será lançada pela Desenvolve SP, agência estadual de fomento, com R$ 200 milhões em créditos para a agroindústria.
“Serão pelo menos R$ 200 milhões para investimentos em equipamentos e na aquisição de bens de capital, com taxa Selic e mais nada. Vamos aportar também mais dinheiro no Fundo de Expansão do Agronegócio Paulista (Feap). Além de manter as linhas já existentes, vamos criar uma para capital de giro, uma para o desenvolvimento rural sustentável e outra para subvenção de seguro. Vamos operar com o maior volume de recursos da história do Fundo”, afirmou.
Mesmo com polêmica, Agrishow aposta em faturamento recorde
Desde que o ‘desconvite’ feito pelo presidente da Agrishow ao ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, se tornou público, na terça-feira à noite (28), pelo jornal Valor Econômico, membros do governo e da feira vem protagonizando polêmicas que culminaram na retirada do patrocínio do Banco do Brasil, embora a instituição ainda esteja na feira, e no cancelamento da abertura.
Segundo o governo, o ministro estava com um discurso pronto para anunciar R$ 400 bilhões em crédito na Agrishow, o que não aconteceu.
Mesmo com tudo isso, a organização da feira mantém otimismo. A expectativa é que o evento deste ano supere as vendas de máquinas da última edição, que ultrapassou R$ 11,24 bilhões, e atraiu mais de 190 mil visitantes.
O 1º vice-presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), João Carlos Marchesan, afirmou que o aumento da safra e da área cultivada exigirá uma quantidade maior de máquinas no campo.
“Os produtores estão em busca do que há de mais moderno em tecnologia agrícola para ampliar sua produtividade e aprimorar sua eficiência e eles estão decidindo os investimentos neste momento. Por isso, a realização da Agrishow acontece no período ideal, oferecendo justamente o que eles procuram”, disse.
Em uma entrevista ao Estadão Conteúdo, a diretora de comunicação da Abimaq, Lariza Pio, uma das entidades organizadoras do evento, afirmou que a expectativa dos visitantes é fazer negócios, e que “tudo o que está memorizado não vai ofuscar esse objetivo. Nossa expectativa se mantém otimista”.