O consumo de café aumenta a cada ano. Atualmente, é necessário produzir pelo menos 1,5 milhão de sacas a mais a cada safra para suprir o mercado. Muito bom no final das contas para quem produz, que naturalmente vende mais e por preços atrativos.
A saca do café arábica fino para exportação, por exemplo, está cotada na BM&FBovespa a quase R$ 400. No Brasil, entregue nas cooperativas, o produtor consegue em média R$ 338, segundo levantamento do Cepea.
Entretanto, o mercado não é feito só de cafés finos, como lembra o analista Eduardo Carvalhaes Junior.
? Para quem é produtor de ponta, é um bom preço. Não é um preço excepcional. Porém, se você fizer a média de venda dos cafés de uma fazenda, você vai ver que não chega a isso. É mais ou menos você analisar o mercado de carne pelo filé mignon ? diz o analista.
A valorização do café fez o preço da libra peso, que corresponde a menos de meio quilo ultrapassar a casa dos US$ 2 esta semana na Bolsa de Nova York. Há treze anos, não chegava a tanto. Em 2003, 2004 a cotação era de R$ 0,35. Experiente no mercado e tradicional produtor, Luiz Hafers sabe no que dá este sobe e desce.
? Nós estamos vivendo o resultado de preços continuamente baixos nos últimos dez anos. Então, a produção na América Central é menor, no Vietnã é menor. Os grandes produtores não plantaram porque não compensava, e nós vamos ter um período intermediário de grande aperto ? diz avalia Hafers.
No Brasil, a próxima safra deve ser entre 15% e 20% menor do que esta. Vai ser a chamada safra de ciclo negativo, a tal da bianualidade. A Conab não divulgou ainda a previsão de colheita, mas analistas estimam que não chegue a 50 milhões de sacas. Mais da metade fica no Brasil devido à demanda de consumo. O restante é exportado.
? A grande modificação no cenário brasileiro e que vai refletir no cenário internacional é que agora não temos estoques. Nos últimos 10, 15 anos, nós vínhamos suprindo, quando nós tínhamos uma safra menor com estoques brasileiros privados e na mão do governo, que fazia leilões. Se quando eram situações conhecidas já era difícil, analisar agora é mais difícil ainda. Nós temos que ter sempre um pé atrás. O produtor de café tem que agir com prudência não segurar toda a sua produção, porque mais uma vez: a gente pode mostrar os fatos que estão acontecendo, mas saber qual é o resultado disso é muito difícil ? explica Carvalhaes Junior.
Apesar da queda na produção, o Conselho de Exportações de Café do Brasil (Cecafé) estima que as vendas externas do grão brasileiro rendam até R$ 5 bilhões em receita na safra do ano que vem.